sexta-feira, 31 de julho de 2009

O gênio peruano

Um jovem estudante de direito, jornalista da Radio Panamericana. Uma típica família, com todas as suas neuras, erros, sempre mais?,­ e acertos. A vida reinava tranquilamente no bairro de Miraflores, em Lima, Peru. O jovem estudante demonstrava grandes pretensões literárias e, a cada conto escrito, aludia a um determinado estilo com seus heróis da literatura: Borgers, Faulkner, Hemingway. Proust e outros.
Se o livro tivesse somente esse enredo, já seria, de todo?, digno de ser lido, no mínimo, com uma olhar curioso e ávido.
Eis que no decorrer da historia, quase ao mesmo tempo, entram dois personagens que dão o tempero complementar ao enredo: o novelista Pedro Camacho, e a recém-divorciada Julita. Ambos interferem diretamente na vida do jovem escritor.
Camacho veio da Bolívia com fama de grande escritor de radio-novelas, que mostra realmente ter incrível aptidão, mas devido a uma intensa sucessão de novas tramas, dia após dia, acabam se embaralhando, resultando numa metamorfose de personagens que pulam de historia em historia.
Já Julia, também boliviana, vai a Miraflores para descansar e obter um novo casamento. No entanto, acaba cruzando seu caminho com o (meio parente) jovem estudante e jornalista da Panamericana. E o romance está feito. É claro que não vou narrar meticulosamente as passagens do livro, coisa desnecessária de dizer, certo?
No livro Tia Julia e o Escrevinhador, Mario Vargas Llosa, um grande ícone da literatura, não só latino-americana, mas mundial, narra, ao mesmo tempo, a historia do Jovem Marito e a sua própria historia.
No entremeio, as novelas de Pedro Camacho, com suas criticas aos “hermanos platinos”, sua linguagem rebuscada e seus personagens cinquentões e com narizes aduncos, cobrem com um tom jocoso, inteligente e sagaz este excelente livro.
O ultimo capitulo é praticamente uma autobiografia da Vargas, onde narra seu casamento, a pesquisa para alguns de seus romances, Conversa Na Catedral e A Guerra do Fim do Mundo, o tempo em que viveu e trabalhou na Europa e outras fases, mas tudo isso como se fosse narrado por Marito. Mais uma obra atemporal, desse gênio das palavras.

Para quem quer ir além, no livro Conversas com Vargas Llosa, escrito pelo jornalista Ricardo A. Setti, o escritor peruano relata como foi o processo de criação do livro Tia Julia(...). No principio seria apenas uma historia sobre um escritor de novelas de rádio, que ele conheceu no inicio dos anos 50, quando trabalhava na Radio Central, em Lima.
Em certo momento, como contrapartida as novelas de Camacho, resolveu introduzir uma historia pitoresca e real, sem perder, no entanto, o tom “rocambolesco” das mesmas.
Com o seu humor fino e inteligente, e sua aguçada pena, romançeou a realidade de maneira ímpar.
Sendo assim, colocou o seu romance com Júlia Urquidi Illanes, irmã da esposa de seu tio, como um plano de fundo, ou as novelas que fazem fundo ao romance de Julia e Marito?
Um livro imprescindível.

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