sábado, 23 de outubro de 2010

A vergonha do talento

Esse negocio de cantar não e coisa fácil. Tem muita gente que acorda de um dia para o outro e resolve simplesmente abrir a boca e cantar, achando que está no chuveiro, não é? Mas também existe o contrario, pessoas que possuem uma voz incrível, mas se sentem acanhadas e pouco confortáveis em cantar, seja qualquer coisa.

Três bons exemplos disso são: Nat King Cole, David Sylvian e George Benson. Cole e Benson são grandes expoentes do jazz, e isso nem precisa ser dito. Ambos sofreram basicamente o mesmo preconceito, é não é do racial que estou falando. Ate meados da década de 1940, King Cole relutou em cantar, dizendo que sua voz era extremamente rouca e que, provavelmente, era isso que as pessoas gostavam de escutar e não a voz em si.

O sinal de que o musico seguiria o caminho de cantor começou com a música The Christmas Song, em 1946. A gravação trazia o Nat King Cole Trio e um naipe de cordas o acompanhando. Nos anos seguintes vieram os sucessos que marcaram definitivamente a carreira do artista, e que fizeram com que ganhasse uma porção de críticas. Muitos diziam que Cole havia abandonado o jazz para se dedicar ao lado mais comercial da música, com suas baladas românticas e nada mais. Músicas como Mona Lisa (1949), Unforgettable  (1951),  When I Fall in Love  (1956) e Too Young (1951) não podem ser classificadas senão como pérolas, no mínimo.

E a verdade de que Cole nunca abandonou definitivamente o jazz, isso ninguém pode dizer. Com sua morte prematura, em 1965 aos 45 anos, fica a pergunta: qual o caminho que Cole seguiria? O jazz ou as baladas tão bem interpretadas por ele. Não importa, a música seria a vencedora. 

George Benson foi outro que começou no jazz e ao longo dos anos se tornou uma grande cantor, apesar de não se sentir confortável em cantar. Até meados da década de 1970, Benson era um exímio guitarrista, com um timbre perfeito e um estilo de composição invejável.   

Foi a partir do sucesso de Supership (1975) que Benson começou a deixar suas raízes no jazz para seguir o caminho milionário do pop. Isso foi até 1980, quando o disco Give Me The Night, produzido por Quincy Jones, ganhou o Grammy daquele ano. Isso elevou o status de Benson  e músicas como Turn Your Love Around (1981) e In Your Eyes (1983) invadiram as rádio FM.

Benson é tão exímio no que faz, seja cantando ou tocando, que não faz muito sentido ficar discutindo isso. O artista, hoje com 67 anos, continua a se expressar da maneira como sabe, e seu timbre, tanto de voz quanto de sua guitarra, ainda é digno de se escutar. 

Já David Sylvian não tem a sua raiz no jazz. Começou a carreira no Japan, em 1974. E depois de oito anos e grandes álbuns, como Quiet Life (1979), partiu para a parceria com o compositor Ryuichi Sakamoto. 

Sylvian nunca gostou muito de sua voz, preferindo suas letras ou composições. O ponto é que o cantor foi um das grandes referências para o movimento new romantic. E se escutarmos as grandes performances de Simon Le Bon, do Duran Duran, podemos ver muito de Sylvian lá. O compositor nunca se prendeu em estilos, já trabalhando com Robert Fripp, Holger Czukay e tantos outros. Seja com música eletrônica, experimental, art rock e o que mais lhe parecer viável.

Sylvian não tem o mesmo prestígio dos dois citados anteriormente. Mas, seja qual for dos três, são cantores de extrema competência e quase insuperáveis. Vale ouvir, em qualquer fase.
Boas Batidas! 

Too Young - Nat King Cole
Come In From The Cold - George Benson
Silver Moon - David Sylvian 

sábado, 9 de outubro de 2010

Palavra laureada

Independente de suas posições políticas, esquerda, direita, pra frente ou pra trás, a figura de Vargas Llosa sempre me causou profunda admiração. Seja pela escrita extremamente clara e rica em detalhes históricos, seja pelo realismo fantástico que pauta grande parte de seus livros.

Não estou falando do escritor que sempre debateu sobre as formas de governo da América-Latina, com recentes criticas aos governos de Lula e Hugo Chávez, por exemplo. Mas falo do profundo crítico da sociedade peruana, com seu incrível poder de percepção de todas as classes daquele país.  Desde o seu romance de estreia, Batismo de Fogo (título no Brasil), passando por A Casa verde, Conversa na Catedral, Tia Júlia e o Escrevinhador, A Guerra do Fim do Mundo ou Historia de Mayta, o que se vê é uma forma de narrativa forte e envolvente, onde os diálogos não necessitam de linearidade.

Aos 74 anos, o peruano é o mais novo Nobel de Literatura, prêmio anunciado na ultima quinta. Quanto ao confronto política/literatura, Vargas Llosa acredita que o Nobel foi mais por sua “obra literária” do que suas “idéias políticas”. O escritor lançou recentemente Sabres e Utopias, reunião de artigos sobre política, literatura e outros assuntos.

Foi a sexta vez que um latino americano recebe tal prêmio. Os outros foram Gabriela Mistral/Chile 1945; Miguel Angel Astúrias/Guatemala 1967; Pablo Neruda/Chile 1971; Gabriel Garcia Marquez/Colômbia 1982 e Otavio Paz/ México 1990.

Espero que o Brasil apareça um dia nessa lista. Ou, quem sabe, não poderiam criar uma categoria póstuma?, daí não faltariam concorrentes brasileiros. Machados, Aluísios, Barretos, Gracilianos, Jorges ou Rosas...  

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