sábado, 28 de março de 2009

Salve um cachorro e sua criança também

E hoje, não somente, os nossos cachorros possuem tudo: spas, discotecas, aniversários, cosméticos, roupas, táxis, hotéis e o que mais se puder imaginar. Pobres bichinhos, desamparados, jogados na rua, dormindo junto com crianças, também na rua. Ate que certa hora surge uma senhora dotada de bondade extrema, e retira o cachorro das ruas...deixando apenas as crianças.

Eduardo Dusek e Leo Jaime são vistos por uns como artistas bregas, por outros apenas tiradores de sarro. O fato é que em 1982, com letra de Leo Jaime, Eduardo Dusek lançou “Rock das Cachorras”. Talvez uma simples paródia, mas cabe muito bem nos dias de hoje.
Dondocas de vestido e carros importados, com suas casas enormes e corações pequenos, sorrisos moldados e carteiras cheias, deem as mãos e cantem bem alto:





Troque seu cachorro por uma criança pobre
Sem parente, sem carinho, sem rango, sem cobre.
Deixe na historia de sua vida uma noticia nobre
(...)
Tem muita gente por ai que ta querendo levar uma vida de cão
Eu conheço um garotinho que queria ter nascido pastor alemão
Esse é o rock despedida para minha cachorrinha chamada sua mãe.
É pra sua mãe..
Seja mais humano
Seja menos canino
De guarita pro cachorro, mas também de pro menino.
Se não um dia desses você vai amanhecer latindo.



Eduardo Dusek nasceu no Rio de Janeiro, em 1/1/1957. Sempre notabilizado pelas suas letras satíricas e com boas sacadas, possui vários sucessos, entre eles as tocantes baladas "Cabelos Negros" e "Eu velejava em você", regravada com sucesso por Zizi Possi. Já o goiano Léo Jaime nasceu em 23/4/1960. Participou da efervescência da cena pop/rock 80´s no Brasil, com letras também debochadas e despretensiosas. Fez parte do João Penca e seus Miquinhos Amestrados.
Não são os maiores letristas da música, mas o que tem isso? O recado está dado, com bom humor e zombaria, tudo ganha ourto ar.
Abaixo, dois momentos: Dusek no programa Um toque de classe, apresentado por César Camargo Mariano, cantando a balada "Aventura", com o seu humor costumeiro. Em seguida a versão "Rock´n´Rio" de "Brega Chic (o vento levou black)", com direito a vaias programadas e sua letra com final "feliz".




quinta-feira, 12 de março de 2009

No blog com o professor: Entrevista com Daniel Daibem

As tardes paulistanas sempre ganham um charme a mais quando ouvimos o bom programa "Sala dos Professores". De segunda à sexta, Daniel Daibem nos proporciona, de forma clara e didática, pérolas e histórias do Jazz e da MPB. Como se todos os ouvintes fossem seus amigos, sem um pingo de arrogância, destila seu repertório.
Ja trabalhou na Rádio 89Fm (saudosa rádio rock!) e posteriomente na Brasil 2000. Quem quiser conferir o trabalho do rapaz entre na Rádio Eldorado.
Com sua tradicional simpatia Daniel Daibem concedeu esta entrevista ao Batida Sonora.

Então vamos começar o “improviso”.

BSQuando começou o interesse pela música?
Daibem- Desde pequenininho. Minha avó tinha aquele móvel com uma vitrola. O que eu me lembro e tenho até hoje, alguns compactos em vinil eram: o disco da Vila Sésamo, Mauro Celso, com Farofa-fa, Biquíni de Bolinha Amarelinha e João da Praia, com O Boi Vai Atrás (esse cara andava na praia, no Rio de Janeiro, com um violão de uma corda só e gravou...aonde a vaca vai, o boi vai atrás). Também lembro que quando passava a abertura do Sitio do Picapau Amarelo com o Gilberto Gil, eu já prestava atenção nos arranjos de flauta e outros detalhes. Aquilo era muito claro prá mim. Também tem aquela abertura original do Globo Repórter, que me pegava na veiz. Depois veio 1980, com a Blitz, o Thriller do Michael Jackson, Ultraje à Rigor, Paralamas e para fechar o tempo AC/DC. Lembro que eu já tinha a coleção inteira do AC/DC (com o Bon Scott) em vinil, mas não tinha aparelho de som em casa. Toda tarde, religiosamente, eu pegava esses discos e fazia uma romaria até a casa da minha avó, para ouvir enquanto fazia a tarefa da escola. Ouvia um por um. Depois veio Pink Floyd, que me levou aos Secos e Molhados, que me abriu para a música brasileira. O rock, inevitavelmente, me levou para o rhythm ‘n’ blues, que me levou para o soul, para o funk e, finalmente para o jazz.

BSFalar sobre Jazz sem aquela arrogância típica. Qual o segredo dessa improvisação?
Daibem- Na verdade, desde o primeiro dia em que comecei no rádio, eu decidi que não iria fazer locução daquele jeito bobo, unilateral, gritalhão, distribuidor de prêmios. Eu trabalhava na 89 FM (quando ainda era a Rádio Rock). Sempre procurei contar as histórias sobre as bandas, como fazia nas tardes em Bauru, na casa dos amigos. A coisa rola assim até hoje. Acho que nem saberia fazer de outra forma. Tem mais uma coisa que eu queria falar sobre esse lance de abordar as coisas complexas com simplicidade. Li uma vez aquele livro Pai Rico, Pai Pobre, que fala sobre educação financeira e o autor diz que, dando algumas palestras, percebeu o seguinte: o adulto se sente ofendido com explicações simplórias e, muitas vezes, deixa de aprender com isso.

BSA música instrumental ainda tem espaço nas rádios?
Daibem- Claro que tem. Mas não adianta enfiar no ouvido do cara que não está acostumado; assim, ele muda de estação na hora. Tem que criar curiosidade, contar uma história, dizer que por trás do instrumental tem sempre uma “letra”, uma historinha. Com o tempo o cara começa a ouvir esse “recado subliminar”. É justamente por isso que o Sala dos Professores tem 20 minutos. Para aproximar aquelas pessoas que ainda não tem o hábito de ouvir esse tipo de som e deixar as que já gostam com gostinho de quero mais.

BSMuita informação em apenas 20 minutos. Como você cria o “Sala dos professores”?
Daibem- Quer saber a real? Eu tenho um caderno desses de 10 matérias. Eu risco uma página com a caneta dividindo de seis em seis linhas (segunda, terça, quarta, quinta e sexta). Ali eu anoto os nomes das músicas e apenas uns caquinhos com o que eu quero falar sobre cada uma delas. Prefiro não escrever texto para não ficar aquela coisa formal, lida. Aí eu gravo tudo na segunda-feira na rádio; os cinco programas de uma vez. No começo eu fazia ao vivo, mas como saí da programação normal da Eldorado, agora eu gravo tudo de uma vez. Na verdade, eu produzo os programas enquanto ando na rua, cantarolando, ouvindo meu Ipod, tirando um som, descobrindo algum detalhe. Digo sempre que na Sala, não importa muito qual música a gente vai ouvir, mas o que a gente vai ouvir daquela música.

BSProfissão locutor. Como ligar música com informação e ainda prender a atenção do público?
Daibem- Sinceramente, eu não sei. Pra mim essa curiosidade já veio junto com o som. Mas é claro que eu penso num mínimo de senso estético, entre uma música e outra. Sempre fico imaginando qual o som que vai fazer o cara mais ingênuo e leigo continuar ouvindo a sequência. Lembro sempre de um amigo meu, o Pedro Barros (que é contato comercial da MTV). Ele tem um ouvido bem simplório. É ele que eu tenho que segurar. Mas sempre com um repertório de primeira, só com os mestres.

BS•O rádio é ainda o melhor meio para difusão de informações?
Daibem- Não vejo assim. Para mim cada meio tem a sua linguagem adequada. Veja, por exemplo, o Pânico na TV e o Pânico no rádio. Os dois formatos trabalham com o escracho, mas o “time” na TV e no rádio são bem diferentes. Já sei que alguém vai pensar: - O que é que esse imbecil do Daniel está falando? Mas eu vejo assim. Não tenho preconceito. Adoro bobagem. Talvez seja por isso que eu trate um assunto tão intelectualóide e acadêmico (que é o que fizeram com o Jazz) com essa tal simplicidade.

BSQual o disco que marcou sua vida?
Daibem- High Voltage, do AC/DC. Aquele timbre de guitarra dos irmãos Young. É um limpo “sujo” que nem eles conseguiram reproduzir de novo. Dizem eles que era uma sala de um estúdio em Sidney, que não existe mais. Essa banda até hoje é uma lição de simplicidade. Não tem viagem. Batera e baixo numa pegada só e as guitarras no contratempo, dando um balanço que nem é típico do rock. Mas ali tem coisa. Sem falar nas letras do Bon Scott, que não gritava, contava a história. Vai entender...

Valeu Daniel!

Atenção Classe

Batucando com arte

Já disse Armando Pittigliani: “Não há realmente um baterista jovem que não
tenha um pouquinho de Dom Um no seu jogo de pratos (...)”
Se de todo fosse verdade, seria maravilhoso, mas não é bem assim, infelizmente.
Dom Um Romão foi genial até a sua morte. Dono de uma técnica espetacular e um suingue mágico, comandou suas baquetas em vários clássicos aqui e no exterior.

Nasceu no Rio de Janeiro a 3 de agosto de 1925. Antes de soltar seu clássico disco de estréia, já havia tocado no “Bossa Nova at Carnegie Hall” e gravado com J.T Meirelles e outros papas da nossa música.
Em 1964 lança Dom Um. Com um time de primeira, entre eles Paulo Moura e Cipó, e um repertório com pérolas como, Telefone, Vivo Sonhando e Diz que Fui Por Aí, assinava para sempre o seu nome na historia da bateria brasileira.

Depois ganhou o mundo com o Brasil 66, de Sérgio Mendes, além de tocar e gravar com uma enorme quantidade de astros do jazz e da música internacional. Ao lado de Edson Machado é, sem dúvida alguma, um dos mais influentes bateristas da década de 60.

Antes da fama

E lá se vão mais de trinta anos do Zimbo Trio. No entanto, antes dessa trupe se juntar, Luiz Chaves lançava seu disco solo em 1963, Projeção. Já contando com os futuros membros do Zimbo, e ainda Luiz de Andrade, Demétrio, Hector Costita, Magno e Alberto D´Alcantara, o disco trazia um repertório consistente, com destaque para "Pra que Chorar" e "Tormenta".
Pode ser encontrado com certa facilidade. Se você gosta de boa música, não deixe de adquirir. Indispensável.

Com o King Cole Trio e o Quarteto de Radamés Gnatalli como “primeiros professores”, Chaves deu início a sua jornada musical. Ainda novo estuda com Maurício Ferreia e Vasile Yemere, contrabaixistas da sinfônica Municipal e da Sinfônica Brasileira.
Em início de carreira já acompanha Johny Alf e daí vai ganhando reconhecimento pelo talento incontestável.

Com seu baixo “Clodot”, sobrenome do luthier espanhol Felix Clodot, brilhou com o Zimbo Trio até a sua morte, em fevereiro de 2007.
Deixou um legado fantástico na música.

segunda-feira, 2 de março de 2009

10 anos sem o brilho de uma estrela

Uma versão branca de Aretha Franklin, ou apenas uma cantora de patricinhas? Talvez as duas, ou apenas uma delas. O certo é que Dusty Springfield foi uma artista de inegável talento.
Desde seu disco de estréia, A Girl Called Dusty, de 1964, ficou provado que a cantora sempre foi a favor do que lhe agradava, no caso não gostava de canções de puro apelo popular e sem sal. O que lhe chamava a atenção eram as levadas contagiantes e cheias de balanço do pessoal da Motown e outros selos dedicados à musica negra. O soul estava em suas veias.




Marta Reeves e Dusty Springfield

Mary Isabel Catherine Bernadette O'Brien nasceu em 16 de abril de 1939, em Londres, Inglaterra. Seu primeiro sucesso [na Inglaterra] foi “I Only Want to Be With You”, a primeira musica tocada no programa de TV Top Of The Pops. No entanto essa é a faceta mais comercial e menos musical de Dusty. Com o passar dos anos o seu talento foi aflorando e inúmeros compositores tiveram hits gravados por ela, tais como o dupla Bacharach/Davis; o trio de ferro da Motown, Dozzier/B. Holland/E.Holland; o casal Goffin/King, e Hurley/Wilkins, autores de um dos maiores sucessos da cantora, “Son Of A Preacher Man” de 1969. A história de Billy Ray, o filho de um pastor que conquistou o coração de uma moça, alcançou o top ten das paradas e eternizou o nome de Dusty Springfield.


Capa do disco BBC session, com músicas de 1964 até 1970

O que marcou Dusty foi o fato de, sendo uma cantora branca, interpretar com o mesmo sentimento e entrega canções de soul e R&B, se tornando uma das maiores cantoras do gênero no seu tempo. Provando que a musica não tem barreiras raciais, tocou para uma platéia sem segregação na África do Sul, o que lhe valeu uma deportação. Tempos duros.

Nos dias atuais o seu nome é citado por cantoras como a fabulosa Joss Stone, fã confessa de Dusty e a recém consagrada Duffy.

Hoje, 2 de março de 2009 faz 10 anos que Dusty morreu, aos 59 anos, em decorrência de um câncer de mama. Deixou cerca de 14 discos gravados e uma eterna referência para futuras cantoras. Um filme sobre a artista, com Nicole Kidman no papel principal, até a presente data, está para ser gravado. Apesar de mais baixos do que altos em sua carreia, o talento sempre esteve ao lado de Dusty Springfield.

A chama que não se apaga


É fato que o beatle que mais levanta questões quanto a sua musicalidade é Ringo Starr. O baterista sempre optou por uma carreira calcada em musicas extremamente simples, com arranjos básicos e econômicos.
No entanto, além de marcar historia no quarteto de Liverpool, é de sua autoria- aliás sua e do produtor executivo David Fishof-, a grande iniciativa de reunir, sob o nome de All Starr Band, lendas e ícones da música internacional e excursionar pelo mundo afora.
Formado pela primeira vez em 1989, passaram pelos Estados Unidos e Japão. A turnê foi de 23 de julho até 3 de setembro, e contava com Clarence Clemons, Rick Danko, Levon Helm, Dr. John, Jim Keltner, Nils Lofgren, Billy Preston e Joe Walsh. O repertório se baseava em canções do Beatles, da carreira solo de Ringo e músicas que os envolvidos participaram.


A terçeira formação da All Starr Band


A idéia é que a cada nova turnê o cast seria renovado também. Assim de 1989 até 2008, data da última turnê, as formações foram as seguintes:
● Burton Cummings, Dave Edmunds, Nils Lofgren, Todd Rundgren, Tymothy B. Schmidt, Zak Starkey, Joe Walsh e Tim Cappello (2/6 - 28/9/1992 Estados Unidos e Europa).
●Randy Bachman, Felix Cavaliere, John Entwistle, Mark Farner, Billy Preston, Zak Starkey e Mark Rivera (2/7 – 28/8/1995 Estados Unidos e Japão).
●Gary Brooker, Jack Bruce, Peter Frampton, Simon Kirke, Mark Rivera (28/4 – 7/7/1997 Estados Unidos, Europa e Russia).
● Gary Brooker, Jack Bruce, Simon Kirke, Todd Rundgren e Timmy Cappello (12/2 – 29/3/1999 Estados Unidos).
●Simon Kirke, Dave Edmunds, Eric Carmen, Jack Bruce e Mark Rivera (1/5 – 29/6/2000).
●Ian Hunter, Roger Hodson, Howard Jones, Greg Lake, Sheila E. e Mark Rivera (2001).
●Colin Hay, Paul Carrack, John Waite, Sheila E. e Mark Rivera (2003).
●Billy Squier, Richard Marx, Edgar Winter, Rod Argent, Hamish Stuart, Sheila E. e Graham Russel. (2006).
●Billy Squier, Colin Hay, Edgar Winter, Gary Wright, Hamish Stuart e Greeg Bissonette. (2008). PS* não encontrei informações precisas quanto às datas das últimas turnês.


Ringo Starr e Billy Squier

Ringo nunca mais havia excursionado após o álbum Old Wave, de 1983, se limitando a aparições em programas e gravando uma ou outra faixa em álbuns de outros artistas. Nesse meio tempo, também decidiu se tratar do seu problema de alcoolismo. Foi aí que o produtor executivo David Fishof ligou para ele dizendo que poderia colocá-lo na estrada e se estaria interessado. Algumas ligações depois e o conceito da All Star Band estava pronto. Além da figura do próprio Ringo, o que chama a atenção são os músicos que tocam com ele. Membros da E-Street Band, The Who, Procol Harum, Crazy Horse, Cream, Love Sculpture, The Rascals, The Eagles, Grand Funk Raiload, Guess Who, Bachman Turner Overdriver, alguns deles sendo diretamente influenciados pelos Beatles, como o caso do guitarrista Nils Lofgren.

A idéia de juntar tantos artistas num show ou turnê geralmente ocorre em atrações beneficentes para arrecadarem fundos. Esse foi outro dos motivos que chamaram a atenção na All Star Band. Em quase 20 anos de turnês, não contínuos, milhares de pessoa ao redor do mundo tiveram a oportunidade de desfrutar de uma das maiores lendas da musica. Independentemente da técnica de Ringo, o seu passado trata de colocá-lo na historia. Vale lembrar que o baterista foi o primeiro beatle a tocar na Rússia, coisa que causou extremo alvoroço.

O último disco de Ringo

As turnês da All Starr Band podem ser encontradas em DVDs e CDs. Há uma versão, num CD triplo, lançada pela Sun Records, que cobre até 2000. Ouvir Felix Cavaliere revivendo o hit “Groovin´”; Simon Kirke cantando clássicos do Bad Company; Joe Walsh dando vida à pérola dos Eagles, “Desperado” ou Jack Bruce marcando presença em “Sunshine of Your Love” é muito bom. Uma parte da historia da musica passou por esses músicos.
Apesar das apresentações anuais da All Starr Band, Ringo mantem a sua própria carreira solo a todo vapor, sendo que seu último álbum foi Liverpool, de 2008.
Para nós brasilieros fica a espera, quase “quimerica”, de que um dia, mesmo que distante, essas lendas passem por aqui.

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