terça-feira, 4 de agosto de 2009

O letrista do mês (Aldir Blanc)

Existe mesmo o melhor? Quem foi que inventou esse termo tão “exclusivo”, no sentido de deixar tantos de lado em detrimento apenas de um único. Isso é papo velho, que nunca levou ninguém para lugar algum. Tudo o que conseguimos com isso é uma calorosa discussão, que acaba em pancada, das boas, diga-se de passagem.

Quantas vezes já não escutamos por aí: “ninguém entende as mulheres como o Chico Buarque”, “ah, o Vinícius é o ‘grande poetinha’ de nossa musica”, “Raul Seixas foi o filosofo do rock nacional” ou “Renato Russo foi o poeta de uma geração”. Oras, oras, mas que papo sem pé nem cabeça. Não adianta, as pessoas sempre colocam seus gostos pessoais como a verdade plena e irrestrita, sem direito a erro ou contestação.
Será que Fausto Nilo, Paulo Vanzolini, Haroldo Barbosa, David Nasser, Luiz Gonzaga, Fernando Brant, Paulinho da Viola e tantas outras centenas de compositores são menores por nem sempre serem citados por suas letras? Bobeira.

Sabemos que poesia não é só aquilo que rima, com sua métrica perfeita, seus sonetos carregados de amor, tristeza e um toque de otimismo. O cotidiano viciante, o vai-e-vem das horas perdidas numa fila, os encontros e despedidas nas estações de trem, tudo pode se transformar numa bela letra, dependendo do ângulo e da perspicácia de quem escreve.

Bom, não vou me alongar nesse assunto sem fim. Continuarei com os meus preferidos, mesmo sabendo que não são os melhores, pois, espero, neste país tão rico em suas letras sempre vai brotar uma pena dotada de acidez, inteligência e humor.
A partir deste post vou comentar regularmente sobre uma letra/letrista que me agrade. Pra começar, vou com uma do grande Aldir Blanc, mestre em tramas do cotidiano. Nesta, narra o tormento da mulher que "comemora" as ruínas de suas bodas de prata, com o marido "cheirando à cerveja" e murmurando o nome da outra. São centenas as suas letras, difícil escolher uma, mas vamos lá.








Bodas de Prata

Aldir Blanc/João Bosco
Você fica deitada
de olhos arregalados
ou andando no escuro
de penhoar...
Não adiantou nada
cortar os cabelos
e jogar no mar.
Não adiantou nada
o banho de ervas.
Não adiantou nada
o nome da outra
no pano vermelho
pro anjo das trevas.
Ele vai voltar tarde,
cheirando à cerveja,
se atirar de sapato
na cama vazia
e dormir na hora
murmurando: Dora...
mas você é Maria.
Você fica deitada
com medo do escuro,
ouvindo bater no ouvido
o coração descompassado
É o tempo, Maria,
te comendo feito traça
num vestido de noivado.

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