quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Boa prosa

O pacato José Maria, depois de mais de 30 anos seguindo a rotina de escritórios, finalmente se aposentou. Chega de compromissos, reuniões, colarinhos apertados, gravatas, paletós; a vida seria, daquele momento em diante, um “domingão sem fim.”
Formalidades e monotonias, tudo se foi. O jeito é curtir o tempo que agora resta. Eternas noites em claro, sem mulher, sem filhos, na solidão da casa triste e escura, somente com a luz da Lua fazendo companhia na parede descascada com o passar dos anos, isso é o mais difícil de suportar, e é isso que sobrou para José Maria.

Nas entranhas da noite os sonhos surgem como raios de Sol numa manhã qualquer. Um nome, um simples nome, e já é o bastante para bulir com a memória.
Duília, Duília, Duília...

No dia seguinte, José Maria tenta ocupar seus dias, sem conseguir, no entanto, se fixar em nada. Aquele nome com seis letras ainda ecoava em sua cabeça.
Decide então ir atrás de sua história, na cidade de Pouso Triste, aos seios de Duília, ou, como dizem outros, Dona Dudu. Durante a viagem a sua vida vai se destrinchando aos poucos. Resíduos da memória, coisas que ficaram para trás. Bom, o resto é história, triste história de uma época que sobreviveu apenas na cabeça de João Maria, mas não ao tempo...

Nascido em Sabará, Minas Gerais, em 9 de dezembro de 1894, Aníbal Monteiro Machado foi um mestre na arte de escrever contos. Nos seus 70 anos de vida foram diversas as histórias que ficaram registradas. Com a escrita simples e hipnotizante deixou clássicos da prosa na literatura brasileira, como O Homem Alto; O telegrama de Ataxerxes; Tati a garota, posteriomente transformado em música e filme; Viagem aos seios de Duília e o seu conto mais famoso: A morte da porta estandarte.
Excelente.

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