sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A alma do espetáculo

“Eu vou mostrar, eu vou mostrar
Que o povo paulista também sabe sambar
Eu vou mostrar, eu vou mostrar
Que o povo paulista também sabe sambar
Eu sou paulista
Gosto de samba
A Barra Funda também tem gente bamba” (...)


Geraldo Filme de Souza nasceu em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, em 1928. Ainda muito cedo foi para a capital, se instalando no lugar propício: o bairro da Barra Funda. Quando criança ajudava a mãe, tornando-se entregador de marmitas. Ele e seu amigo de toda vida Zeca da Casa Verde. Nas suas andanças pelas ruas de São Paulo, nos anos 30, tomou contato com a cultura do povo. Com uma memória privilegiada transformou essas idas e vindas na base para seus sambas.

Arredio aos estudos, contrariando sua mãe que sonhava com o filho médico, dizia “Mas que doutor? Doutor em samba até que ainda vai”.
Sempre adotando o samba como bandeira, e não uma escola em especial, começou compondo para o Cordão Carnavalesco Paulistano da Glória, e se envolveu com a Camisa Verde, Vai-Vai, Colorados do Brás e Unidos do Peruche, deixando sempre a sua marca registrada: o “puro samba”, que defendeu até os últimos minutos de sua vida. “Na escola em que eu estiver, eu defendo ela mesmo pra valer, ta me entendendo?” (sic), disse á Fernando Faro, durante o programa Ensaio, em 1992.

Deixou pérolas do samba paulista como, “Tebas”, “Eu vou mostrar”, “Silêncio no Bexiga”; sobre a triste e misteriosa morte de seu amigo Walter Gomes de Oliveira, o Pato N´Água, “Vai no Bexiga pra ver”, homenagem ao bairro que “lhe adotou”.
Sempre defendeu o samba como movimento do povo, sem necessidade de apelar ao visual. “O carnaval de São Paulo? Eu, graças a Deus, vi carnaval em São Paulo, porque hoje em dia é espetáculo. Os próprios sambistas estão preocupados com os carros alegóricos, que eu chamo de “porta-veado”. As meninas sacudindo o bumbum, a televisão não pega outra coisa, não pega ninguém sambando no pé, não se preocupa com musica. Os itens que tem ligação com o samba não estão interessando, o que está interessando é a beleza, aquela coisa toda”.


Morreu em 1995, ás vésperas do carnaval, dando instruções do telefone do hospital, se entregando para aquilo que foi a sua vida.
Pois é. Daqui onze dias as escolas vão sair na avenida e desfilar os seus enredos. Paetês, plumas, luzes, nudez, dinheiro... e o samba ? Esse estará lá, certamente. Sentido por poucos, cantado por alguns, aplaudidos por todos... e esquecidos no dia seguinte. Diluídos nas latas de cerveja que vão dar nova cara par as cidades. Neste ano Rio sem Jamelão e, a há 14, São Paulo sem Geraldo.
Vão-se as almas e ficam os corpos.

O samba vai vencer
Quando o povo perceber
Que é o dono da jogada
(Caetano Veloso- Samba em Paz)

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