sábado, 7 de fevereiro de 2009

"Doçes" memórias

"Chamei de verdes anos os tempos da minha primeira infância. E em livros de memórias procurei reter tudo o que ainda me resta daquela “aurora” que, para o poeta Casimiro, fora a das saudades, dos campos floridos, das borboletas azuis. Em meu caso as borboletas estiveram misturadas a tormentos de saúde, a ausência da mãe, a destemperos de sexo. E tantos espantos alarmaram os meus princípios que viriam eles me arrastar ás tristezas que não deviam ser as de um menino (...) Mas me ficou a realidade do acontecido como o grão na terra. A sorte está em que a semente não apodreça na cova e que o fato não tenha o pobre brilho do fogo fátuo. È tudo o que espero dos “verdes anos” que se foram no tempo, mas que ainda se fixam no escritor que tanto se alimentou de suas substâncias”.
Esse e só um trecho da introdução do livro “Meus Verdes Anos” (1956), nas palavras do próprio autor: José Lins do Rego.
Dono de uma escrita forte e marcante, o escritor retratou de forma brilhante a queda dos engenhos e a expansão das usinas de açúcar no Brasil. Deixou obras memoráveis, como “O Moleque Ricardo” (1935); “Riacho Doce” (1939); “Fogo Morto” (1943); “Usina” (1936) e tantos outros.

Suas obras lhe renderam: Prêmio da Fundação Graça Aranha, pelo romance Menino de engenho (1932); Prêmio Felipe d’Oliveira, pelo romance Água-mãe (1941), e Prêmio Fábio Prado, pelo romance Eurídice (1947).

No seu livro de memórias conta, com extrema paixão e sensibilidade, passagens marcantes de sua infância. Logo no início, duas mortes são narradas, já mostrando que o livro não tem o intuito de florear a infância do escritor. A criação no engenho de seu avô que, posteriormente, lhe rendeu frutos para algumas de suas obras, o descobrimento do sexo, a morte de sua mãe; um livro maravilhoso, que transborda sensibilidade. Afinal de contas, todos nós temos histórias de infância para contar, não importando se nos tornamos homens tristes ou crianças crescidas...
José Lins do Rêgo Cavalcanti nasceu em Pilar, Paraíba, em 3 de Junho de 1901, e faleceu no Rio de Janeiro, em 12 de Setembro de 1957.
Exerceu a carreira de jornalista, romancista, cronista e memorialista, tendo sido um escritor com profundo senso crítico do meio onde foi criado.

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