sábado, 7 de fevereiro de 2009

Além dos olhos

Simplício nasceu, segundo suas próprias palavras, com um defeito: “míope; pior do que isso, duplamente míope, física e moralmente.”
Não distinguindo a feição de ninguém a “duas polegadas de distância”; e sem enxergar suas próprias idéias, sempre escravo da palavra alheia; ludibriado, deixado para trás.
Cercado de sua pequena família composta pela sua tia Domingas, sua prima Arnica e Domingos, seu irmão mais velho, possuía certa riqueza, herdada dos falecidos pais e administrada pelo irmão.
Foram árduos e difíceis os anos tentando achar uma cura para o seu duplo defeito; a vontade de saber e de ver sempre foi uma obsessão. Fortunas foram gastas e os resultados nunca se fizeram aparecer. Todos lhe passavam a perna, visando apenas as suas posses.
Depois de algumas tentativas, frustradas por sinal, eis que surge alguém na trama: um Armênio, com fama de “sabido em magias”.

Cashiel! Schaltiel! Afiel! Zarabiel! Depois de muita tensão, o artefato está pronto: A Luneta Mágica!!! Com ela tudo poderá enxergar. Além de três minutos habita o mal; além de treze minutos está o futuro...

Vendo o que não deveria, sabendo o que não convém, torna-se juiz das ações alheias, encantado pelos avessos... No fim, bem... a surpresa está em descobrir.


Joaquim Manoel de Macedo é mais conhecido pela obra “A Moreninha”. Nasceu no Rio de Janeiro em 1820 e faleceu em 1882. Formou-se em medicina e foi professor de Historia e Corografia, além de exercer o papel de deputado por duas vezes.

A Luneta Mágica è um romance extremamente inteligente e atual, mesmo passados mais de cem anos de sua publicação. O autor destila o olhar interesseiro e oportunista da sociedade sobre todos, e as conseqüências que arcamos quando lutamos contra fatos consumados.
Uma obra imortal.

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