sábado, 19 de dezembro de 2009

Oh criança, isso é só o fim

Um país sem água, animais ou plantas. Pessoas com doenças de pele, problemas respiratórios, órgãos artificiais e diversos tipos de câncer.

Extermínio de miseráveis, segregação, esterilização em massa, caos no trânsito, pobreza aguda, degradação acentuada, contaminação com produtos químicos através de comidas de laboratório.

Um meio ambiente completamente devastado, um local difícil de se respirar, um calor insuportável.

Cenário atual? Em parte. Talvez em menor ou maior escala, é para esse fim que estamos caminhando. Viver e morrer são coisas equivalentes, quando não há a mínima condição para nada. Tudo controlado, racionado. A hora certa para fazer as coisas; um dia específico para comprar, obrigatório, e sujeito à pena, caso não seja cumprido.

No inicio dos anos 80, cientistas começaram a atentar para o rumo que a devastação do meio ambiente estava seguindo. E foi também nessa época, em 81, que Ignácio de Loyola Brandão lançou Não Verás Pais Nenhum. Aborda, de maneira fantástica e um tanto quanto assustadora, aquilo que escrevi no começo deste texto.

Ficção com pitadas de humor, acidamente critico, levanta questões primordiais para o atual cenário do ser humano, como preservação, fim dos recursos hídricos, aquecimento global, aumento do numero de carros, entre outros.

Questões essas que são exaustivamente discutidas, analisadas, debatidas, mas sem o mínimo de progressão. Não importa quantas reuniões de cúpula sejam feitas, quantos tratados sejam assinados, falta sempre o primordial: boa vontade.

Voltando ao livro, o autor descreve um Brasil que vive em constante pressão. O governo (ESQUEMA) controla tudo com mãos de ferro, espalhando seus agentes pelas ruas, visando manter a boa ordem. Os meios de comunicação falam apenas aquilo que vai de encontro às expectativas do esquema. Tudo esta bem, o Brasil é um pais privilegiado, exceto por alguns poucos que querem manchar a imagem da nação, discurso conhecido e tantas vezes usado. Aqui e em todo lugar.

No meio disso, Souza, o personagem principal, busca o amor perdido, ou o alívio de se ver livre de uma relação?, através de Adelaide, sua esposa, enquanto tenta se descobrir. Sua indignação pelo momento é enorme, inconformado com o meio em que vive, com a farsa que o circunda. Cada vez mais abismado com as verdades que lhe são mostradas, mas escondidas de todos. Um país seccionado, vendido, em grande parte, para nações estrangeiras, que mantém suas próprias regras no local, agindo como um pais dentro do outro. Dominado por empresas de fora que exploram o local visando apenas o lucro de seus países de origem. São verdades bem atuais, mas mascaradas por todos.

Se esse é realmente o futuro que deixaremos aos próximos, então, eles “não verão país nenhum”. Uma obra eternamente vistosa, nova e imprescindível.

Ignácio de Loyola Brandão nasceu em Araraquara, interior de São Paulo, em 1936. Estreou na literatura com Depois do Sol, livro de contos, em 1965. Jornalista dos bons, com uma linguagem geralmente voltada ao homem e seus conflitos, Loyola já contabiliza mais de 20 obras, entre contos, crônicas, romances e outros.
Podemos ler seus textos às sextas-feiras, no jornal Estado de São Paulo, no Caderno 2, onde reveza com Milton Hatoum.

Pegando como gancho o recente fracasso do COP 15, onde lideres mundias se reuniram para discutir sobre o controle de emissão de Gás Carbônico e outros poluentes que causam o efeito estufa, o livro serve, talvez não como espelho, mas uma chamada. Um tanto quanto fantasiosa? Tenho minhas dúvidas.
Altamente recomendável.

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