quarta-feira, 21 de abril de 2010

O pai dos gênios


Vinte e um de abril; nesta data não faltam comemorações. Aqui no Brasil marca o dia do enforcamento de Tiradentes. É também a data de inauguração do estádio São Januário, do Vasco da Gama; o aniversário da lenda Iggy Pop e da morte da cantora Nina Simone e do técnico Tele Santana. Falando em morte, hoje, faz 100 anos que um dos mais ilustres escritores da literatura americana faleceu: Samuel Langhorne Clemens, o eterno Mark Twain.
Nascido na Florida, em 1835, é tido por grandes escritores, Willian Faulkner e Ernest Hemingway, por exemplo, como o pai da literatura americana.
Hemingway chegou mesmo a dizer que "toda a literatura americana começa com ele. Não havia nada antes. Não há nada depois".
E poder ter certeza que não há muito exagero nessa frase. Twain injetou a “linguagem do povo” nos romances americanos. Começou nos versos e acabou eternizado como criador de duas obras memoráveis: As Aventuras de Tom Sawyer (1876) e Huckleberry Finn (1884), além de Príncipe e mendigo (1881) e Vida no Mississipi (1883). Livros de destaque em meio a sua numerosa bibliografia.
Muito além de literatura infanto-juvenil, os livros trazem um teor crítico e ao mesmo tempo a leveza da vida de um garoto. E tudo isso na já citada linguagem coloquial, de fácil acesso e, nem por isso, descartável.
Ler Twain é viajar pelo Mississipi num barco à vapor, ver as enormes desigualdades raciais que habitavam esse estado (continua assim?), tudo como se fosse algo comum, tal a leveza de suas palavras.
Essas palavras fáceis, certamente, nasceram do fato de que Twain sempre foi uma pessoa que vivenciava os fatos, de maneira extremamente íntima. Daí o realismo escancarado de seus livros.
Escritor essencial, satírico por vocação, assim foi Mark Twain.
Em junho, a casa Sotheby's, da Nova Iorque, irá leiloar um capítulo inédito da autobiografia de Mark Twain. O texto, Rascunho de família (A Family Sketch), contém 65 páginas, dedicadas a sua filha Suzy. O valor esta estimado entre 120 e 160 mil dólares.
Além disso, uma coleção de fotos, cartas manuscritas e textos de Twain, totalizando cerca de 1 milhão de dólares, também serão leiloados.
Se vocês não leram o livro chamado As Aventuras de Tom Sawyer, nada sabem a meu respeito. Foi escrito por Mark Twain, que costuma falar a verdade. Às vezes, exagera um pouco, mas de um modo geral, fala a verdade. Trecho que inicia o livro Huckleberry Finn.




“É melhor merecer honrarias e não recebê-las do que recebê-las sem merecer”.

“Recolha um cão de rua, dê-lhe de comer e ele não morderá: eis a diferença fundamental entre o cão e o Homem”.

domingo, 18 de abril de 2010

O príncipe veterano

Depois de duas perdas irreparáveis, (Walter Alfaiate e Johnny Alf), eis que um medalhão de nossa musica novamente entra em pauta. Mas desta vez, o motivo é outro: Roberto Silva, o príncipe do samba, completou 90 anos.

Com mais de sete décadas de carreira, centenas de sucessos e uma voz, apesar da idade, ainda irretocável, Roberto Silva, depois de tudo isso, continua um célebre desconhecido de nossa música. Sim, não são todos os Robertos que estão nas rodas de conversa e foi por acaso que li, hoje, uma reportagem sobre ele na Folha de S. Paulo.

Os 90 anos foram completados no último dia nove. Já a carreira começou aos 18 anos, no programa Canta Moçada, da Rádio Guanabara e dois anos depois entrava na Nacional, naquela época, a grande empresa de comunicação do Brasil.

Mas foi só na Radio Tupi que seu sucesso começou de fato. Com a música "Mandei Fazer Um Patuá", de Raimundo Olavo e Roberto Martins, o nome de Roberto entrou de vez na historia do samba.

Foi da turma do Café Nice, reduto carioca de músicos, da malandragem e outros gênios das décadas de 1920 até fins de 1950. Na “patota”, junto com Roberto, andavam Wilson Batista, Geraldo Pereira, Ataulfo Alves, Banedito Lacerda, Mario Lago, e tantos outros.

Se a discografia de Roberto Pereira só fosse composta pela antológica série Descendo o Morro, que gravou ao longo de três décadas, (dez discos), já seria suficiente para ser eternizado no panteão da musica brasileira. E, porque não, mundial?

Mas Roberto é muito mais do que isso. Vida longa....

Boas Batidas, com a música "Se acaso Você Chegasse", de Felisberto Martins e Lupicínio Rodrigues.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Feito para dançar

Alguns dizem que foi um movimento banal, movido mais pela aparência do que pelo talento. Bom, pra quem acredita que a cena disco não teve vida inteligente, umas das melhores formas de desfazer isso é analisando os caras que estavam no meio.

Certamente, um dos mais fabulosos nomes nisso tudo é o de Nile Rodgers, o cara que botou uma década pra dançar.

O Chic lançou uma tonelada de grandes hits, sempre com a suingada guitarra de Nile, que começou a mostar seu talento ainda cedo. Com 19 anos já fazia parte da banda de apoio do Teatro Apollo, tocando com Aretha Franklin, Parliament e outras bambas da música negra.

Formou o Chic no fim da década de 70, com o seu grande parceiro, o baixista Bernard Edwards. Em 1983, a banda chegou ao fim, e Nile continuou sua caminhada como produtor e “fábrica de sucessos”.

A lista de hits feitos pelo compositor é gigantesca, incluindo famosos como David Bowie, Madonna, Diana Ross, Sister Sledge, Duran Duran e tantos outros.

Com Bowie, trabalhou no álbum de maior vendagem do cantor: Let´s Dance, no mesmo ano em que o Chic se separou. Com as Sister Sledge produziu We are Family (1979), disco que colocou as irmãs no topo das paradas.

O estrondoso sucesso de Madonna, o disco Like a Virgin, que vendeu mais de 20 milhões de cópias, também tem o dedo de Nile.

Outro sucesso é Flash, de 1985, trabalho que apresentou Jeff Beck numa nova roupagem. Uma mistura de Toto, Van Halen, disco, mas no fundo e Jeff Beck. O álbum trouxe o famoso clássico de Curtis Mayfield, People Get Ready, e cinco faixas de Nile.

Just Another Night foi gravada por Mick Jagger no disco She´s the Boss. Além das participações de Herbbie Hancock, Jan Hammer, Sly Dunbar e Steve Ferrone a disco também teve produção de... pois é, Nile Rodgers.

O seu nome ainda pode ser encontrado em discos como Arena e Notoriuos, do Duran Duran ou Mind, Body & Soul, da Joss Stone. A lista é imensa.

Bom ressaltar que além de trabalhar na produção ele também tocou em alguns desses discos, muitas vezes com seus companheiros de Chic: Bernard Edwards e Tony Thompson.

Então, se estiver ouvindo algum desses álbuns, e escutar um balanço infernal nas guitarras, podem ter certeza que Nile Rodgers está fazendo algo lá.

O músico e compositor já lançou alguns álbuns solos e hoje, quando não está produzindo nenhum disco ou fazendo participações especiais, está envolvido na We Are Family Foundation, instituição que da suporte para cultura e artes para as próximas gerações, pregando o respeito e a diversidade.

Boas Batidas!

Site de Nile Rodgers

Site da We Are Family Fundation

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Na raça

Se o lema do punk é o "do it yourself", então os veteranos do Gang Of Four estão literalmente seguindo o ditado.

Com mais de 30 anos de carreira, oito discos gravados, um deles ao vivo, e uma enxurrada de boas músicas, a banda está oferecendo várias “excentricidades” para os fãs, visando arrecadar dinheiro para o próximo disco do grupo, Content.

Passeios de helicóptero com os integrantes, fazer uma entrevista exclusiva, discos autografados ou, olha só isso(!), possuir frascos com sangue dos músicos, são alguns dos mimos oferecidos pela banda. O dinheiro também será destinado para instituições beneficentes, como a Anistia Internacional.

Um item que chama a atenção é o primeiro show do Gang, datado de maio de 1977, que é vendido por 175 libras, cerca de R$ 470, em fita cassete e acompanha um walkman, clássico!

Já o item mais caro sai por 1.500 libras, cerca de R$ 4.000. Trata-se da oportunidade, caso você tenha uma música própria, de ter sua faixa mixada pelo guitarrista Andy Gill.

A banda já se separou e voltou mais de uma vez, e hoje conta com a sua formação clássica: Jon King (voz), Andy Gill (guitarra), Dave Allen (baixo) e Hugo Burnham (bateria). O último lançamento do grupo foi o disco Return the Gift, de 2005. O trabalho é uma regravação de algumas das faixas dos três primeiros trabalhos da banda.

Para quem se interessar pelo projeto, acesse o link Pledge Music.

Boa noite e boas batidas, com um clássico do Gang Of Four: Damage Goods.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Por trás dos tambores. Entrevista com Robertinho Silva

Bobeira eu me alongar aqui falando sobre esse tremendo musico. Mais de cinco décadas de carreira, um currículo que conta com Milton Nascimento, com quem tocou por mais de 20 anos, Ivan Lins, Wayne Shorter, Bud Shank, Tom Jobim, Gal Costa, Sarah Vaughan e quem mais você imaginar. A lista é imensa.

Ah, não posso deixar de fora o Som Imaginário, grupo que Robertinho ajudou a fundar, essencial.

Dono de uma pegada forte e extremamente rítmica, Robertinho Silva, além de tocar mundo afora, ministra workshops, mantém o Centro de Percussão Alternativa e se apresenta com a Robertinho Silva e Família, grupo que conta com seus filhos Ronaldo, Vanderlei, Pablo e Thiago. Muito atencioso, o baterista concedeu uma entrevista ao Batida Sonora.

Quero deixar registrado que fiz esta entrevista duas vezes. A primeira delas se perdeu, infelizmente. Contatei Robertinho novamente que, sem ressalva alguma, topou refazê-la.

BS● Como foi o começo de sua carreira. Antes de Alberto Mesquita e Joaquim Neagale, você estudou com mais alguém? Robertinho - Meu primeiro professor de música foi o Sr. Albano, (fazia aula particular no bairro de Bangú), no ano de 1959. Comecei tocando com o grupo de baile em Realengo e Bangu. A primeira banda foi o Conjunto Flamingo, de 1959 a 1963. No ano de 1963, Walter Tiso, percussionista da Banda Flamingo, me indicou para tocar na Boate Molin Rougê, em Copacabana. Meu segundo passo foi a indicação para tocar na Boite Drink, do cantor Cauby Peixoto.

BS● A sua primeira gravação foi em 1964 com Cauby Peixoto, certo? Como aconteceu? Robertinho - Foi, eu já tocava na Boate do Cauby Peixoto, quando a gravadora RCA VICTOR sugeriu ao Cauby que gravasse um disco com o show que era apresentado na Boate em 1964.

BS● Durante o inicio da década de 70, você integrou o Som Imaginário. Infelizmente o grupo não teve uma carreira tão duradoura. Nunca houve a vontade de se reunirem e lançarem algum material? Robertinho - Sim, houve vontade de reunir e gravar, no ano de 2006. A produtora do Wagner Tiso propôs fazer uma turnê com a formação original do Som Imaginário, nas principais capitais do Brasil, mas foi difícil conciliar as agendas dos componentes do grupo.

BS● Você morou por quatro anos nos Estados Unidos (1974-1978), continuando a gravar com artistas nacionais e estrangeiros. Como foi esse período? O cenário para o musico brasileiro era favorável? Robertinho – Segundo Tom Jobim “ – A melhor saída para o músico brasileiro é o Aeroporto Internacional do Galeão”. Quando foi desfeito o grupo Som Imaginário, eu e o contra-baixista Luiz Alves resolvemos seguir o conselho do Tom Jobim. Fomos para os Estados Unidos da América. Nesses quatro anos trabalhei com músicos americanos e brasileiros, como o percussionista Airton Moreira, a cantora Flora Purin, o trombonista Raul de Souza...

BS● Dentre a centena de discos que você já gravou, poderia destacar algum, ou alguns que mais lhe agradam? Robertinho - Com Milton Nascimento, Milagre dos Peixes Ao Vivo; com o saxonfonista Wayne Shorter, Native Dancer; com Egberto Gismonti, Academia de Dança.

BS● Você possui uma longa parceria com o baixista Luiz Alves, como surgiu esse entrosamento? Robertinho - Nosso encontro foi na boate Drink, em 1964. Essa nossa parceria já dura mais de 40 anos, estamos juntos até hoje BS● Você acompanha o atual cenário da musica nacional? Ainda falta uma maior iniciativa dos músicos em trabalhar com os ritmos brasileiros? Robertinho - Sim. Ainda temos muitas barreiras para superar, falta principalmente o incentivo cultural do governo.

BS● Em uma entrevista concedida ao site Batera.com, lhe perguntaram se o exterior é o melhor caminho para o baterista que está começando a carreira, ao que você respondeu que não. Ainda pensa dessa maneira? Por quê? Robertinho - Continuo pensando assim. A diversidade rítmica no Brasil é a mais rica do Mundo, nós ainda temos muito que aprender sobre os ritmos brasileiros. Se você sai do país corre o risco de perder a identidade. BS● Como é a sua rotina de estudo, gravações e shows? E quanto ao Centro de Percussão Alternativa, sobra tempo para ensinar? Já foi procurado por algum musico de renome que se interessou em participar do projeto, ou apenas conhecer? Robertinho - Os compromissos de shows, gravações e aulas são organizados a partir de um agendamento prévio. É preciso ficar atento e marcar sempre os compromissos com a agenda na mão. Tenho dois dias na semana que dedico ao Centro de Percussão, lá é o momento de repassar tudo que aprendi ao longo desses anos. O projeto já foi visitado por vários amigos.

BS● Poderia citar três momentos marcantes de sua carreira? Robertinho - Foram muitos momentos marcantes, mas vou eleger: 1- O primeiro baile, quando fui aplaudido pelo saudoso dançarino Paulo César;

2- O meu primeiro palco de Teatro com o Som Imaginário, no Teatro Opinião, em abril de 1970;

3- No ano de 2007, com o Projeto Batucadas Brasileiras, subir ao palco do teatro João Caetano com minha mãe, com seus 98 anos, foi uma forte emoção.

BS● Planos para algum próximo projeto? Robertinho - Escrever um livro com minha trajetória de 50 anos de carreira.

BS● Algumas palavras finais. Robertinho - A vida continua..., vamos em frente, com ritmo, energia, disposição e emoção pelos palcos do mundo!!!

Valeu, grande Robertinho.

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