terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Uma antiga geração


A ideia de que sempre haverá um grupo de pessoas que jamais serão realmente reconhecidas pelo seu talento já é antiga, mas torna-se diariamente nova, cotidiana, lugar comum, cais do porto para os inconformados e tristes, saudosistas e sabedores, moucos e esquecidos.

Geralmente essa ideia é usada por aqueles que falam sobre os mais variados assuntos, a dita arte e cultura, o popular, o banal, o simples, o imponente. Não importa, como já dito, sempre haverá o esquecido. Parece mesmo que não há lugar para todos, ou mesmo para ninguém, ainda que seu talento seja digno de reverência e admiração.

O papel de arranjador no Brasil parece algo desconhecido em nossos dias, ainda que não seja verdade. Ocorre que em décadas passadas, esse sujeito tinha o mesmo peso do artista o qual ele produzia, e assim uma infinidade de maestros e arranjadores estampavam os seus nomes em discos de peso. Dessa forma, gente como Lindolpho Gaya, Hélio Delmiro, Moacir Santos, Antônio Adolfo, J. T. Meireles, Leo Peracchi ou Geraldo Vespar eram facilmente identificáveis pelos seus arranjos em inúmeros trabalhos fonográficos.

Apareciam pelos seus arranjos de cordas, um instrumento diferente, andamentos inovadores, corais de destaque ou pela mistura ou falta disso tudo. Sim, havia espaço para o experimentalismo, para a comoção dos sentidos ou ressignificação da escuta, numa época em que ainda não vivíamos essa sensação de copo cheio, profundo tédio e distância de novidades. 

Lançado em 1965, Samba, Nova Geração, trazia, então, o jovem Geraldo Vespar em sua primeira tentativa solo, acompanhado de um time de músicos, infelizmente, não creditados pela Odeon no disco. Dessa forma, fica impossível saber quem tocou, além de Vespar, nas 12 composições do LP. Vespar é um violonista de enorme talento, tento estudado com ilustres como Moacir Santos, e mesmo o acompanhado por dois anos em shows e gravações. Mas isso ainda é parte pequena de sua carreira.

Ainda que não tenha nada de inovador, trata-se de importante registro fonográfico, principalmente por ser seu único disco relançado, dando um caráter de raridade.  

O disco foi recebido com grande sucesso pela crítica, tendo recebido o prêmio O Guarani, de revelação do ano. Abre com Deus Brasileiro, dos irmãos Valle, que também são lembrados em E vem o Sol, Preciso Aprender a Ser Só e Gente. Também trás Chuva, de Durval Ferreira e Pedro Camargo, posteriormente gravada pela dupla Baden e Einhorn, no disco Tempo Feliz. Menescal, Donato e Jobim são outros que tiveram composições gravadas nesse álbum. Talvez por reverência aos citados, Vespar aparece como compositor apenas em uma das faixas: Céu Sem Sol.

Após esse disco, Geraldo Vespar continuou a sua carreira de arranjador e instrumentista, tendo trabalhado com João Nogueira, Beth Carvalho, Eumir Deodato, Cesar Camargo, Pacífico Mascarenhas, Sylvia Telles, dentre outros.

Gravou ainda sobre os pseudônimos Delano e Gerard, também lançou alguns poucos LP´s e compactos. Firmou-se como arranjador e solista na orquestra de Paul Mauriat, com quem trabalhou nas décadas de 70 e 80, além das orquestras de Cipó e Astor, dentre outras. 

Hoje, passados mais de cinco décadas de lançamento de Samba, Nova Geração, a música já se despiu e desnudou de maneiras diversas. Ganhou codinomes, apelidos e denominações desnecessárias. No meio disso tudo, Geraldo encontra-se no alto de seus 80 e poucos anos, talvez esquecido, mas não morto, esperando sempre que uma nova geração o encontre pelos sambas incontáveis da vida.   

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