Johnny Hooker e Liniker, no clipe de Flutua FONTE: papelpop |
A sexualidade sempre foi tema de
discussão calorosa e, muitas vezes, ignorante. Afinal de contas, devemos mesmo
prestar satisfações sobre o nosso prazer; até que ponto o amar, o êxtase, o
sensual e sexual devem ser colocados em pauta, ainda mais em lugares que não
agregam em nada seja lá o que for à vida de seja lá quem for?
Não bastasse o teor natural dessa
discussão, ela também envereda por outros caminhos, especialmente quando
envolvem pessoas do mesmo sexo. Ainda que em muitos países o homossexualismo seja
combatido e muitos neguem que o pratiquem – o tradicional “não tenho nada
contra, mas não aprovo”, a morte de homossexuais no mundo atinge cada vez mais
níveis alarmantes, que compactuam com as mais altas e cruéis barbáries humanas
já praticadas.
No Brasil, pais que lidera o
ranking, só no ano de 2016, foram computadas mais de 340 mortes, e esse número
pode ser bem maior. O curioso é que a nação não se encontra nem entre os 20
países mais homofóbicos do mundo, aqueles em que ser LGBT é passível de morte,
trancafiamento, penas físicas e demais sevícias.
É comum que muitos saiam dizendo
que o mundo era melhor antes, que agora qualquer brincadeira já é ofensa e que
tudo isso não passa de frescura. Mas, não é bem por ai. Essas falas geralmente
partem de pessoas que passaram anos e anos humilhando uma extensa gama de gente,
com as mais diversificadas características: físicas, mentais, sociais, dente
outras. São pessoas assim que ainda fazem com que se perpetue uma visão
atrasada sobre sexualidade, geralmente com viés religioso e sua concepção
imaculada do sexo, a eterna dupla Adão e Eva, e tudo o mais é maçã e pecado.
Surfando na onda do
anti preconceito, destacamos inúmeros entusiastas e militantes dessa causa sem
fim. Este século nos brindou com duas músicas que podem ser consideradas hinos
contra todo esse retrocesso contínuo que assola os mais diversos países. Um
veio da Irlanda, país que descriminalizou o homossexualismo em 1993. O outro
vem do Brasil, como citado, ainda que ser homossexual não seja um crime aqui,
estamos longe de uma união entre as partes envolvidas.
Hozier começou a sua carreira em 2013,
após largar a faculdade para se dedicar à música. Estreou com Take me to Chruch no mesmo ano. Foi com
essa estreia que seu nome foi lançado ao estrelado – e caótico – mundo pop,
transformando o seu lamento inconformado em produto vendável. Capitalismo à
parte, a letra e o clipe chamam a atenção para o sofrimento inerente aos
homossexuais, pelo simples fato de se envolverem sexualmente com alguém do
mesmo sexo, ainda que a noção de sexo não seja tão simples de ser explicada. Chama
a atenção para o conflito entre religiosidade e sexualidade, em como esses dois
conceitos diversos se chocam, levando até mesmo aos atos vis da violência e
intolerância. Necessário destacar que a letra não trata especificamente do homossexualismo, fato que foi levado mais em consideração apenas pelo seu clipe. É antes, nas palavras do compositor, uma canção sobre sexo e sexualidade, fazendo referência à Igreja como instituição que força as pessoas a se sentirem envergonhadas pela sua sexualidade e mesmo discriminar a orientação sexual alheia.
Na mesma levada, pulando três anos
no tempo, temos Johnny Hooker e Liniker, os brasileiros que igualmente
levantaram essa questão, mas aqui já de uma forma mais explicita e crua, ainda que com um romantismo permeando a interpretação dos cantores. Na música Flutua,
temos um casal homossexual e surdo, que por uma, outra, provavelmente ambas, as
coisas são vítimas de uma sociedade punitiva e cruel. Aqui, deixando a religião
de lado, temos o frequente fato do quanto as pessoas se incomodam com a sexualidade
alheia, em quanto alguém parecer pleno e feliz, solto e liberto é o bastante
para despertar o monstro do preconceito, travestido com a sua casaca da moral e
do bem.
Não é necessário detalhar cada um
dos clipes, estes estão na rede, já foram super dissecados, escutados e tudo o
mais. O que deve ser destacado é que cada vez mais se faz necessário uma
geração de pessoas que cheguem as massas – aqui considerando toda a sua
diversidade, e diga a elas que não estão só, que lutem, que amem, que se
apaixonem, que sofram, que saibam viver apesar dos tribunais, das forcas e
carrascos, que saibam que o mundo se move por amor, das paixões loucas e
ferozes aos casos na praça, com sorvete na mão, sorriso no rosto e uma franja balançando
ao vento.
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