quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Livre

Dias desses estava lendo uma crônica do Vinícius chamada Da Solidão. O título, por si só, já expressa uma pontinha de angustia em quem quer que seja. Certa hora ele cita o nome do poeta  Hart Crane, que se jogou ao mar quando ia do México para os Estados Unidos.

Crane ficou lá, jogado no oceano, na total escuridão, vendo o navio ir embora e a morte se aproximar. E essa imagem ficou na minha cabeça desde então.

O poetinha conversa, em poucas linhas, sobre a solidão que acometeu alguns ilustres personagens da arte mundial. Poe, Toulouse-Lautrec, Dante, Rilke. E no fim continua a pergunta: qual a maior solidão?

Será a de Chico, em sua tristíssima Pedaço de Mim; ou quem sabe é a composição de Sérgio Bittencourt, Naquela Mesa, onde relata a saudade que sente de seu pai, o eterno Jacob do Bandolim?
Não importa. Solidão é algo tao forte que não é presico nem mesmo se estar só para sentí-la. Eu caí nisso por acaso, penso eu. Ontem, naquele dia frio e quase morto, como hoje, fez 20 anos que perdi algo muito valioso pra mim.

Depois de tantos anos me massacrando, penando, culpando (?), me matando, consegui, enfim, deixar isso pra trás. Cobri com terra e saudade. Não aquela saudade mortal, que normalmente é a mais sentida, mas aquela que trás a certeza de que, no momento certo e da maneira certa, as coisas foram muito bem. Tudo perfeito e em sincronia..felicidade.   

Quase no fim da crônica, Vinícius diz: não, a maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, e que não da a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.   

Pois é. Hoje penso o quanto fui egoísta, até mesmo cruel, em não aceitar, simplesmente aceitar, que muitas coisas seguem seu proprio rumo independente de nossa existência, que é bobagem se matar e tornar-se algo amargo e duro. Isso de pensar que o mundo é culpado pela sua dor, que ela é a maior e mais a triste de todas, que o negócio é se fechar na sua dor, isso não tem sentido, não pra sempre. 

Se você chegou até aqui talvez pergunte que diabos, eu leitor, tenho com isso. Eu digo que nada. Este post foi meio pessoal demais. Somente pra ter a certeza de que, ao olhar pra trás, não ficarei em pedaços, mesmo sabendo que a mesa estará sempre vazia.

Digo isso sem um pingo de tristeza, que fique claro. Boa noite e Boas Batidas. 

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