Jorge Ben (todo dia era dia de Índio)
Ano: 1500. Pedro Álvares Cabral aporta em terras brasileiras e a nossa história, banhada em sangue, roubos e doenças, mudaria para sempre. Índios, naquela época, aos milhares, cores, cheiros, nuances, matas, coisas jamais vistas pelo homem branco que em pouco mais de 500 anos conseguiu, com extrema eficácia, destruir quase que totalmente.
A sanha desenfreada dos colonizadores; a “catequização e salvamento” dos índios por parte das missões; os ciclos da borracha; a guerra dos agropecuários, tudo isso ajudou a dizimar uma população gigantesca de nações indígenas.
A sanha desenfreada dos colonizadores; a “catequização e salvamento” dos índios por parte das missões; os ciclos da borracha; a guerra dos agropecuários, tudo isso ajudou a dizimar uma população gigantesca de nações indígenas.
Importante dizer que nem só na Amazônia, paraíso verde deste mundo cor de chumbo, é que habitavam os “legítimos” moradores do Brasil; de norte a sul do país, tribos e mais tribos indígenas mantinham o bem estar e equilíbrio da terra.
Cren- Acárore, Waimiri-Atroari, Guarani, Pataxós, Bororó, Avá-Canoeiro, Suriá. Antes, bravos guerreiros, dotados de grande liberdade, donos das próprias vontades, felizes no seu meio. Hoje, famélicos, bêbados, pedintes, prostituídos; com nomes de João, Pedro, José, sem raízes.
Cren- Acárore, Waimiri-Atroari, Guarani, Pataxós, Bororó, Avá-Canoeiro, Suriá. Antes, bravos guerreiros, dotados de grande liberdade, donos das próprias vontades, felizes no seu meio. Hoje, famélicos, bêbados, pedintes, prostituídos; com nomes de João, Pedro, José, sem raízes.
O Parque Nacional do Xingu, apesar da boa proposta de manter as nações indígenas intactas, ainda é pouco. Em 1971, com poucos anos de funcionamento, sofreu um duro golpe: a rodovia BR-080 cortou uma parte do parque, tirando, dos 22 mil quilômetros, oito mil. Era o progresso mostrando mais uma das suas artimanhas construtivas.
Tanto a música quanto a literatura já dedicaram obras aos índios. Moacyr Scliar escreveu “Majestade Xingu”, que narra a saga de Noel Nutels (1913-1973), médico que dedicou sua vida aos índios. O jornalista Edílson Martins escreveu o ótimo “Nosso Índios, Nossos Mortos. Os olhos da emancipação”, uma séria de reportagens que fez ao longo de cinco anos para jornais e revistas. Com prefácio de Antônio Callado, autor do seminal “Quarup”, que também tem o índio como um de seus motes, e Apoena Meireles, eterno herói dos silvícolas, o livro trás entrevistas e depoimentos, dentre eles dos irmãos Villas Boas e de chefes indígenas.
De todos os textos, um me marcou profundamente e que abaixo transcrevo:
“Há também um episódio, e eles são tantos, que fornece o tipo de tragédia que os Waimiri-Atroari enfrentam há mais de um século nas suas relações com a chamado mundo civilizado.
Os 18 índios conduzidos a Manaus como troféu, em 1906, submetidos a uma rigorosa disciplina militar, com ordem unida e tudo, numa tentativa de integração rápida e patriótica urgentes, evidentemente não resistiram.
Houve um, entretanto, que morreu na Santa Casa de Misericórdia de Manaus. Morreu sem nada entender, perdido em suas memórias, alquebrado, dobrado.
Sentindo que ia acabar, muito fraco, conseguiu erguer a cabeça, e se apoiou na cabeceira da cama. Fitou as duas enfermeiras que se encontravam na local com um medico de Manaus. Uma lágrima desceu pelo seu rosto, indo diluída molhar, quase invisível a olho nu, o lençol encardido que o cobria.
Diante daquele pequeno grupo de pessoas ele então entoou uma canção, triste, longa e insuportável, tal o lamento, aos ouvidos de quem ali se encontrava. Cantou em sua língua, que era a única que sabia, invocando seus heróis míticos, numa prece talvez de dor, talvez de alegria, abandonando enfim o mundo dos vivos, de tão triste memória.
Cessada a cantiga, recolheu-se à postura anterior, cerrou os olhos, afastou sem violência um mosquito que pousara no seu rosto, e morreu. Morreu sereno, calmo, assim como com uma vela que se apaga, sem ruído, ao sopro de uma brisa mais forte”. (sic)
Os 18 índios conduzidos a Manaus como troféu, em 1906, submetidos a uma rigorosa disciplina militar, com ordem unida e tudo, numa tentativa de integração rápida e patriótica urgentes, evidentemente não resistiram.
Houve um, entretanto, que morreu na Santa Casa de Misericórdia de Manaus. Morreu sem nada entender, perdido em suas memórias, alquebrado, dobrado.
Sentindo que ia acabar, muito fraco, conseguiu erguer a cabeça, e se apoiou na cabeceira da cama. Fitou as duas enfermeiras que se encontravam na local com um medico de Manaus. Uma lágrima desceu pelo seu rosto, indo diluída molhar, quase invisível a olho nu, o lençol encardido que o cobria.
Diante daquele pequeno grupo de pessoas ele então entoou uma canção, triste, longa e insuportável, tal o lamento, aos ouvidos de quem ali se encontrava. Cantou em sua língua, que era a única que sabia, invocando seus heróis míticos, numa prece talvez de dor, talvez de alegria, abandonando enfim o mundo dos vivos, de tão triste memória.
Cessada a cantiga, recolheu-se à postura anterior, cerrou os olhos, afastou sem violência um mosquito que pousara no seu rosto, e morreu. Morreu sereno, calmo, assim como com uma vela que se apaga, sem ruído, ao sopro de uma brisa mais forte”. (sic)
Um ponto: no dia 19/4/1959 foi realizado o 1° Festival do Índio, no Ibirapuera, em São Paulo. Coisa que deveria ser anual.
“Um índio descera de uma estrela colorida,
Brilhante. De uma estrela que virá numa velocidade
Estonteante.
E pousara no coração do hemisfério sul na América.
Num claro instante
Depois de exterminada a ultima nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançada que a mais avançada das tecnologias”.
Caetano Veloso (Um Índio)
“Um índio descera de uma estrela colorida,
Brilhante. De uma estrela que virá numa velocidade
Estonteante.
E pousara no coração do hemisfério sul na América.
Num claro instante
Depois de exterminada a ultima nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançada que a mais avançada das tecnologias”.
Caetano Veloso (Um Índio)
Outras comemorações
Bem, nem só os Índios têm a sua comemoração no dia de hoje. Roberto Carlos celebra seus 68 anos e 50 de carreira, com uma vasta programação. Show em Cachoeiro do Itapemirim, sua cidade natal; apresentação no Maracanã; espetáculos com cantores sertanejos, no estádio do Pacaembu; com cantoras- no Teatro Municipal de São Paulo; tributo de bandas de rock, no Ibirapuera e para fechar, uma exposição na Oca, em Janeiro de 2010. Já faz tempo que o cantor não apresenta algo relevante, e o repertório já se solidificou em canções manjadas. No entanto, Roberto Carlos ainda mantém a velha classe, cantando com maestria.
Também hoje é a vez da grande Lygia Fagundes Telles assoprar as velas. Chega aos 86 anos de vida, ainda com o título de Primeira Dama da Literatura Brasileira. Com várias obras publicadas estreou aos 15 anos com o livro de contos Porões e sobrados (1938), que a autora, mais tarde, excluiria de sua biografia. Em 1944 lança Praia Viva, este realmente considerado o inicio.
Lançou, com grande destaque, As Meninas (1973); Ciranda de Pedra (1981) e o seu maior êxito: Horas Nuas (1989).
Enfim, o dia de hoje se reflete na acomodada carreira de um astro, nas sábias palavras de uma escritora e no triste fim de uma nação.
Lançou, com grande destaque, As Meninas (1973); Ciranda de Pedra (1981) e o seu maior êxito: Horas Nuas (1989).
Enfim, o dia de hoje se reflete na acomodada carreira de um astro, nas sábias palavras de uma escritora e no triste fim de uma nação.
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