As tardes paulistanas sempre ganham um charme a mais quando ouvimos o bom programa "Sala dos Professores". De segunda à sexta, Daniel Daibem nos proporciona, de forma clara e didática, pérolas e histórias do Jazz e da MPB. Como se todos os ouvintes fossem seus amigos, sem um pingo de arrogância, destila seu repertório.
Ja trabalhou na Rádio 89Fm (saudosa rádio rock!) e posteriomente na Brasil 2000. Quem quiser conferir o trabalho do rapaz entre na Rádio Eldorado.
Com sua tradicional simpatia Daniel Daibem concedeu esta entrevista ao Batida Sonora.
Então vamos começar o “improviso”.
BS •Quando começou o interesse pela música?
Daibem- Desde pequenininho. Minha avó tinha aquele móvel com uma vitrola. O que eu me lembro e tenho até hoje, alguns compactos em vinil eram: o disco da Vila Sésamo, Mauro Celso, com Farofa-fa, Biquíni de Bolinha Amarelinha e João da Praia, com O Boi Vai Atrás (esse cara andava na praia, no Rio de Janeiro, com um violão de uma corda só e gravou...aonde a vaca vai, o boi vai atrás). Também lembro que quando passava a abertura do Sitio do Picapau Amarelo com o Gilberto Gil, eu já prestava atenção nos arranjos de flauta e outros detalhes. Aquilo era muito claro prá mim. Também tem aquela abertura original do Globo Repórter, que me pegava na veiz. Depois veio 1980, com a Blitz, o Thriller do Michael Jackson, Ultraje à Rigor, Paralamas e para fechar o tempo AC/DC. Lembro que eu já tinha a coleção inteira do AC/DC (com o Bon Scott) em vinil, mas não tinha aparelho de som em casa. Toda tarde, religiosamente, eu pegava esses discos e fazia uma romaria até a casa da minha avó, para ouvir enquanto fazia a tarefa da escola. Ouvia um por um. Depois veio Pink Floyd, que me levou aos Secos e Molhados, que me abriu para a música brasileira. O rock, inevitavelmente, me levou para o rhythm ‘n’ blues, que me levou para o soul, para o funk e, finalmente para o jazz.
BS•Falar sobre Jazz sem aquela arrogância típica. Qual o segredo dessa improvisação?
Daibem- Na verdade, desde o primeiro dia em que comecei no rádio, eu decidi que não iria fazer locução daquele jeito bobo, unilateral, gritalhão, distribuidor de prêmios. Eu trabalhava na 89 FM (quando ainda era a Rádio Rock). Sempre procurei contar as histórias sobre as bandas, como fazia nas tardes em Bauru, na casa dos amigos. A coisa rola assim até hoje. Acho que nem saberia fazer de outra forma. Tem mais uma coisa que eu queria falar sobre esse lance de abordar as coisas complexas com simplicidade. Li uma vez aquele livro Pai Rico, Pai Pobre, que fala sobre educação financeira e o autor diz que, dando algumas palestras, percebeu o seguinte: o adulto se sente ofendido com explicações simplórias e, muitas vezes, deixa de aprender com isso.
BS•A música instrumental ainda tem espaço nas rádios?
Daibem- Claro que tem. Mas não adianta enfiar no ouvido do cara que não está acostumado; assim, ele muda de estação na hora. Tem que criar curiosidade, contar uma história, dizer que por trás do instrumental tem sempre uma “letra”, uma historinha. Com o tempo o cara começa a ouvir esse “recado subliminar”. É justamente por isso que o Sala dos Professores tem 20 minutos. Para aproximar aquelas pessoas que ainda não tem o hábito de ouvir esse tipo de som e deixar as que já gostam com gostinho de quero mais.
BS•Muita informação em apenas 20 minutos. Como você cria o “Sala dos professores”?
Daibem- Quer saber a real? Eu tenho um caderno desses de 10 matérias. Eu risco uma página com a caneta dividindo de seis em seis linhas (segunda, terça, quarta, quinta e sexta). Ali eu anoto os nomes das músicas e apenas uns caquinhos com o que eu quero falar sobre cada uma delas. Prefiro não escrever texto para não ficar aquela coisa formal, lida. Aí eu gravo tudo na segunda-feira na rádio; os cinco programas de uma vez. No começo eu fazia ao vivo, mas como saí da programação normal da Eldorado, agora eu gravo tudo de uma vez. Na verdade, eu produzo os programas enquanto ando na rua, cantarolando, ouvindo meu Ipod, tirando um som, descobrindo algum detalhe. Digo sempre que na Sala, não importa muito qual música a gente vai ouvir, mas o que a gente vai ouvir daquela música.
BS•Profissão locutor. Como ligar música com informação e ainda prender a atenção do público?
Daibem- Sinceramente, eu não sei. Pra mim essa curiosidade já veio junto com o som. Mas é claro que eu penso num mínimo de senso estético, entre uma música e outra. Sempre fico imaginando qual o som que vai fazer o cara mais ingênuo e leigo continuar ouvindo a sequência. Lembro sempre de um amigo meu, o Pedro Barros (que é contato comercial da MTV). Ele tem um ouvido bem simplório. É ele que eu tenho que segurar. Mas sempre com um repertório de primeira, só com os mestres.
BS•O rádio é ainda o melhor meio para difusão de informações?
Daibem- Não vejo assim. Para mim cada meio tem a sua linguagem adequada. Veja, por exemplo, o Pânico na TV e o Pânico no rádio. Os dois formatos trabalham com o escracho, mas o “time” na TV e no rádio são bem diferentes. Já sei que alguém vai pensar: - O que é que esse imbecil do Daniel está falando? Mas eu vejo assim. Não tenho preconceito. Adoro bobagem. Talvez seja por isso que eu trate um assunto tão intelectualóide e acadêmico (que é o que fizeram com o Jazz) com essa tal simplicidade.
BS•Qual o disco que marcou sua vida?
Daibem- High Voltage, do AC/DC. Aquele timbre de guitarra dos irmãos Young. É um limpo “sujo” que nem eles conseguiram reproduzir de novo. Dizem eles que era uma sala de um estúdio em Sidney, que não existe mais. Essa banda até hoje é uma lição de simplicidade. Não tem viagem. Batera e baixo numa pegada só e as guitarras no contratempo, dando um balanço que nem é típico do rock. Mas ali tem coisa. Sem falar nas letras do Bon Scott, que não gritava, contava a história. Vai entender...
Valeu Daniel!
BS•Falar sobre Jazz sem aquela arrogância típica. Qual o segredo dessa improvisação?
Daibem- Na verdade, desde o primeiro dia em que comecei no rádio, eu decidi que não iria fazer locução daquele jeito bobo, unilateral, gritalhão, distribuidor de prêmios. Eu trabalhava na 89 FM (quando ainda era a Rádio Rock). Sempre procurei contar as histórias sobre as bandas, como fazia nas tardes em Bauru, na casa dos amigos. A coisa rola assim até hoje. Acho que nem saberia fazer de outra forma. Tem mais uma coisa que eu queria falar sobre esse lance de abordar as coisas complexas com simplicidade. Li uma vez aquele livro Pai Rico, Pai Pobre, que fala sobre educação financeira e o autor diz que, dando algumas palestras, percebeu o seguinte: o adulto se sente ofendido com explicações simplórias e, muitas vezes, deixa de aprender com isso.
BS•A música instrumental ainda tem espaço nas rádios?
Daibem- Claro que tem. Mas não adianta enfiar no ouvido do cara que não está acostumado; assim, ele muda de estação na hora. Tem que criar curiosidade, contar uma história, dizer que por trás do instrumental tem sempre uma “letra”, uma historinha. Com o tempo o cara começa a ouvir esse “recado subliminar”. É justamente por isso que o Sala dos Professores tem 20 minutos. Para aproximar aquelas pessoas que ainda não tem o hábito de ouvir esse tipo de som e deixar as que já gostam com gostinho de quero mais.
BS•Muita informação em apenas 20 minutos. Como você cria o “Sala dos professores”?
Daibem- Quer saber a real? Eu tenho um caderno desses de 10 matérias. Eu risco uma página com a caneta dividindo de seis em seis linhas (segunda, terça, quarta, quinta e sexta). Ali eu anoto os nomes das músicas e apenas uns caquinhos com o que eu quero falar sobre cada uma delas. Prefiro não escrever texto para não ficar aquela coisa formal, lida. Aí eu gravo tudo na segunda-feira na rádio; os cinco programas de uma vez. No começo eu fazia ao vivo, mas como saí da programação normal da Eldorado, agora eu gravo tudo de uma vez. Na verdade, eu produzo os programas enquanto ando na rua, cantarolando, ouvindo meu Ipod, tirando um som, descobrindo algum detalhe. Digo sempre que na Sala, não importa muito qual música a gente vai ouvir, mas o que a gente vai ouvir daquela música.
BS•Profissão locutor. Como ligar música com informação e ainda prender a atenção do público?
Daibem- Sinceramente, eu não sei. Pra mim essa curiosidade já veio junto com o som. Mas é claro que eu penso num mínimo de senso estético, entre uma música e outra. Sempre fico imaginando qual o som que vai fazer o cara mais ingênuo e leigo continuar ouvindo a sequência. Lembro sempre de um amigo meu, o Pedro Barros (que é contato comercial da MTV). Ele tem um ouvido bem simplório. É ele que eu tenho que segurar. Mas sempre com um repertório de primeira, só com os mestres.
BS•O rádio é ainda o melhor meio para difusão de informações?
Daibem- Não vejo assim. Para mim cada meio tem a sua linguagem adequada. Veja, por exemplo, o Pânico na TV e o Pânico no rádio. Os dois formatos trabalham com o escracho, mas o “time” na TV e no rádio são bem diferentes. Já sei que alguém vai pensar: - O que é que esse imbecil do Daniel está falando? Mas eu vejo assim. Não tenho preconceito. Adoro bobagem. Talvez seja por isso que eu trate um assunto tão intelectualóide e acadêmico (que é o que fizeram com o Jazz) com essa tal simplicidade.
BS•Qual o disco que marcou sua vida?
Daibem- High Voltage, do AC/DC. Aquele timbre de guitarra dos irmãos Young. É um limpo “sujo” que nem eles conseguiram reproduzir de novo. Dizem eles que era uma sala de um estúdio em Sidney, que não existe mais. Essa banda até hoje é uma lição de simplicidade. Não tem viagem. Batera e baixo numa pegada só e as guitarras no contratempo, dando um balanço que nem é típico do rock. Mas ali tem coisa. Sem falar nas letras do Bon Scott, que não gritava, contava a história. Vai entender...
Valeu Daniel!
Atenção Classe
2 comentários:
Certo Toninho,
o caminho é esse, o "do it yourself" e abaixo a imprensa careta e enquadrada.
abraços
Excelente entrevista! Parabénsss aos 2!
Postar um comentário