Não quero aqui falar da morte e de sua consequência,
que na verdade nada mais é do que um ciclo redundante. A verdade é que a dona
não gosta de escolher, e tal qual um funcionário exemplar, faz o que deve ser
feito, o que lhe é incumbido, sem distinguir entre essa é ou não a minha
função.
Também fica claro de que a morte é dona de nossa
única verdade inata, aquela a qual carregamos como a pedra de Sísifo, sem vitória,
sem alcançar o topo.
São os velhos as pessoas mais queridas pela
morte, mas isso soa como algo ofensivo e prontamente mentiroso. Leva de caminhão
uma centena, pois todos somos iguais perante ela.
No entanto, creio que ultimamente a morte esteja
fraca, vazia de literatura, pois desde o último ano, ou um pouco mais, tem
levado todos aqueles homens que deram a vida pela palavra, e terminaram seus
dias como uma palavra: FULANO DE TAL, DATA, descanse em paz.
Em 2012 foi Autran Dourado, ano passado tivemos
Ivan Junqueira, Rubem Alves, Ariano Suassuna e João Ubaldo Ribeiro. E hoje pela
manhã, não contente com tamanha companhia, ela decidiu levar dois de uma vez: o
uruguaio Eduardo Galeano e o alemão Gunter Grass.
Destes, considero a perda de Galeno como um
rombo, uma veia implodida, estraçalhada nesta América mundial. Esse homem
escreveu tudo com uma paixão incomum. Criticando, apontando, deleitando ou
apenas se apaixonando, tudo com o mesmo peso e teor. Seu livro De pernas pro ar deveria ser distribuído
pelas escolas do mundo, assim como Memórias
do Fogo. Sim, também Futebol ao sol e
à sombra, mas este aos boleiros que trocaram o brilho dos olhos pelo das
moedas. Não cito sua obra mais conhecida por total falta de necessidade, ela já
virou monumento, criou vida própria.
Escritores são como obras de arte, pertencem ao
mundo, acasalam suas canetas com os cadernos de lugares todos, e entregam seus
filhos sem remorso, apenas esperando que, se não fizerem boas coisas, ao menos
tenham uma vivência digna, sem se furtarem ao dever de manterem-se vivos,
falantes.
Hoje o mundo não amanheceu mais triste, apenas
um pouco mudo, mas é passageiro. Tocam os tambores e segue o sol.
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