segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O descanso é igual

A morte serve para alinhar as coisas, colocando todos sobre o mesmo patamar, no entanto isso não segue tão bem essa lógica. Assim, um bruto pode tornar-se santo; um santo, homem; e um homem, Deus. São várias as figuras que ganharam ares mitológicos após as suas mortes, tornando-se peças de devoção e culto sem limite. História já batida é sobre a “maldição dos 27”, no rock.
Se por si só o estilo já carrega lendas infindas, essa é apenas mais uma delas, sobre uma suposta praga que matou vários jovens com a mesma idade, vide Hendrix, Joplin, Cobain e Morrison. Superstições a parte, a verdade é que todos eles morreram no auge de suas carreiras, mas mergulhados igualmente no auge de suas fraquezas.
Bom, já que estamos falando de superstições e música, hoje, 8/12, é um dia com ao menos três pontos interessantes. O primeiro é que Jim Morrison, um dos “amaldiçoados”, faria 71 anos; também hoje se completam 34 anos da morte de John Lennon; e 20 anos da partida do maestro do Brasil: Tom Jobim.
Se a morte serve para igualar, ou aparentemente aumentar as coisas, dos três citados, é notório que John e Jim viraram figuras míticas. Depois de todas essas décadas, seus rostos estampam canecas, cadernos, camisetas, caixões. Multidões ainda visitam seus túmulos ou casas, e suas musicas viraram hinos, mesmo que tenham sido feitas apenas para serem músicas. Talvez, hoje eles fossem apenas velhos saudosistas, internados em asilos ou clínicas de dependentes. Lembrariam-se daqueles verdes e enfumaçados anos 70, da lisérgica década anterior. No entanto, morreram, deram uma pausa em suas vidas. Já os fãs, estes têm a mania de reescreverem a história dos ídolos partindo de seu fanatismo, mudando até mesmo o que não viveram, ou o que nunca existiu. Bom, já dizia outro desses ídolos que “o nosso amor a gente inventa”.
Mas e o Tom, onde fica nisso? Ah, o maestro não morreu no auge, posto que lá sempre esteve. Dos três, Tom manteve-se sempre convicto de seu caminho. Partiu já com a vida pavimentada, apesar de que não precisava ainda, não é?
Hoje, na Praia de Ipanema, uma estátua do compositor foi inaugurada. A peça apresenta Tom andando com o violão às costas. Os olhos nada miram, e o passo é firme. Talvez vá tomar um chope com John, uma prosa com Jim.   

A verdade é que hoje, de uma forma ou de outra, o mundo sente falta de uns acordes dos quais nunca teve notícia. Nasce um, vai-se outro, no balanço do Mar.

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