sábado, 13 de dezembro de 2014

Das coisas do amor

Lançado em 2004, em decorrência dos 90 anos de Lupicínio Rodrigues, Coisas Minhas traz um bom apanhado das composições do gaúcho das cicatrizes amorosas. Dentre tantos nomes - Linda  Batista, Altemar Dutra, Silvio Caldas, Cauby Peixoto, Edith Veiga, e outros, um merece destaque. Não pela música gravada, mas pela figura que representa: Fábio Jr. 
Estranho pensar no cantor das baladas açucaradas cantando algo digno de prestar atenção. Mas, como ocorre muitas vezes, artistas viram o que costumam gravar, apesar da voz, apesar do talento, apesar de. 
Talento, essa é a única palavra com que podemos classificar a gravação de "Nervos de Aço" na voz do paulista. Lá se vão mais de 30 anos, praticamente 40!, desde que Mark Davis caiu na boca do povo. Daí para Fábio Jr. foi coisa rápida. 
Quanto a Lupicínio, este se consagrou descrevendo as dores do amor, o amor que até hoje delimita a carreira de Fábio Jr. 

Assim, temos as duas pontas de um fio único. A tragédia do amor banal e do amor desiludido.    

Vê,somos dois apaixonados,
Dois cigarros apagados,
Dizimados de ilusão(...)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O descanso é igual

A morte serve para alinhar as coisas, colocando todos sobre o mesmo patamar, no entanto isso não segue tão bem essa lógica. Assim, um bruto pode tornar-se santo; um santo, homem; e um homem, Deus. São várias as figuras que ganharam ares mitológicos após as suas mortes, tornando-se peças de devoção e culto sem limite. História já batida é sobre a “maldição dos 27”, no rock.
Se por si só o estilo já carrega lendas infindas, essa é apenas mais uma delas, sobre uma suposta praga que matou vários jovens com a mesma idade, vide Hendrix, Joplin, Cobain e Morrison. Superstições a parte, a verdade é que todos eles morreram no auge de suas carreiras, mas mergulhados igualmente no auge de suas fraquezas.
Bom, já que estamos falando de superstições e música, hoje, 8/12, é um dia com ao menos três pontos interessantes. O primeiro é que Jim Morrison, um dos “amaldiçoados”, faria 71 anos; também hoje se completam 34 anos da morte de John Lennon; e 20 anos da partida do maestro do Brasil: Tom Jobim.
Se a morte serve para igualar, ou aparentemente aumentar as coisas, dos três citados, é notório que John e Jim viraram figuras míticas. Depois de todas essas décadas, seus rostos estampam canecas, cadernos, camisetas, caixões. Multidões ainda visitam seus túmulos ou casas, e suas musicas viraram hinos, mesmo que tenham sido feitas apenas para serem músicas. Talvez, hoje eles fossem apenas velhos saudosistas, internados em asilos ou clínicas de dependentes. Lembrariam-se daqueles verdes e enfumaçados anos 70, da lisérgica década anterior. No entanto, morreram, deram uma pausa em suas vidas. Já os fãs, estes têm a mania de reescreverem a história dos ídolos partindo de seu fanatismo, mudando até mesmo o que não viveram, ou o que nunca existiu. Bom, já dizia outro desses ídolos que “o nosso amor a gente inventa”.
Mas e o Tom, onde fica nisso? Ah, o maestro não morreu no auge, posto que lá sempre esteve. Dos três, Tom manteve-se sempre convicto de seu caminho. Partiu já com a vida pavimentada, apesar de que não precisava ainda, não é?
Hoje, na Praia de Ipanema, uma estátua do compositor foi inaugurada. A peça apresenta Tom andando com o violão às costas. Os olhos nada miram, e o passo é firme. Talvez vá tomar um chope com John, uma prosa com Jim.   

A verdade é que hoje, de uma forma ou de outra, o mundo sente falta de uns acordes dos quais nunca teve notícia. Nasce um, vai-se outro, no balanço do Mar.

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