A falta de assunto sempre
leva ao lugar comum. Agora é o "festival de musica no Rio" que está
em voga, e tudo o que acontece durante o dia é deixado pra lá, porque de noite
é hora do show. No meio disso estão os roqueiros, uma tribo medieval, onde
vivem seres eternamente cegos e surdos, levantando uma bandeira já furada pelo
tempo que nunca dorme. "Onde estão os dinossauros?", gritam raivosos, enfurecidos,
sentindo a falta de seus deuses que nunca vieram ao seu encontro.
Pelo fato do Rock in Rio 85`
ter contado com nomes de peso no cenário rock, ficou esse estigma de festival
de rock, somente rock, nada mais do que rock, porque o que importa é o rock e rockrockrockrock.
Que o diga Erasmo Carlos e Lobão, artistas com um pé no rock, com os dois e
mais um pouco no caso do último, e que foram prontamente detonados em suas apresentações
diante da já citada tribo medieval do rock, armada com garrafas, latas e uma imensidão
sem conta de palavrões e falta de educação.
Por mais que eu queira ficar
distante disso, não consigo, pois todo jornal que vejo, toda pagina que abro,
faz alguma alusão aos acontecimentos no Rio de Janeiro; e não são os crimes,
que continuam, o pouco caso do poder público, que igualmente continua, mas sim
o cansativo, mas não falido – Medina gargalha em frente a sua floresta
verdejante – Rock in Rio.
Todo o dia vejo alguém reclamando
das bandas, dos discursos, do Rio, da monopolização da Globo sobre tudo isso.
Pelo menos concordo com o último item, totalmente. Hoje li que os californianos
do Red Hot Chili Peppers usaram uma camiseta com o rosto do garoto Rafael
Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães, que ontem completaria 20 anos.
Isso realmente é um monopólio que não entendo. Mais uma vítima de atropelamento
no "país que ama carros", que já recebeu mais homenagens do que o necessário, se é que
homenagear um menino morto por atropelamento se faça necessário.
Não é de hoje que pessoas,
chamadas de estrelas, apenas por possuírem um alto poder econômico, são
elevadas ao status de divinas. Tudo o que ocorre com elas é digno de
noticiários, e a bandeira da impunidade logo ganha as ruas. Seres totalmente
comuns, assim como eu, viram mártires de um problema que afeta a todos. Caso o
garoto Rafael não fosse filho de uma dessas ESTRELAS, não teria virado MÁRTIR.
No fim das contas a morte iguala todo mundo e, ao fechar os olhos, a cova conforta
todas as caixas de madeira. E é assim que
Carolina Menezes Cintra Santos, Vítor Gurman, Miriam Baltresca e Bruna Baltresca tornam-se iguais a Rafael Mascarenhas, vítimas do mesmo ato, mas nem todas respaldadas pela mesma sociedade.
Sim, fugi do assunto Rock in Rio, pois isso realmente não tem importância. De tudo o que li até o momento, foi essa demonstração de poder o que mais me chamou a atenção.
E o show vai, e deve, continuar...