Vivemos
tempos turbulentos, e isso não é novidade mesmo para aqueles que pensam que, na
verdade, as coisas mudaram para melhor. Lá se vão quase 50 anos desde que Alice
Cooper lançou a possante Elected, no disco Billion Dollar Babies (1972). E o
que isso nos diz? Traçando uma linha direta com a nossa situação, significa que
a música ainda funciona como uma gozação, mas poderia ser também um eco do que
vivenciamos em 2018, durante a corrida presidencial.
Entre
ataques, bravatas e violência irrestrita, o candidato vencedor fez exatamente o
que está explicitado na letra de Cooper, que a descreveu como uma sátira. Diz o
autor: “total political satire. We hate politics, but the idea of Alice, the
scourge of the entire world,being President was just too good[1]". Na
verdade a letra narra a sanha do personagem em tornar-se presidente,
conclamando que ele é, sem dúvidas, a melhor escolha, com ironias como “Hallelujah,
I wanna be selected” e “I never lied to you, I've always been cool”. Um dos trechos
trazem o caráter religioso que permeia muitas campanhas políticas, ainda mais
em países com histórica base religiosa, como o nosso. Também versa sobre algo
muito associado à política, e aqui não faço juízo de valor: a mentira. Ou seja,
ainda que mentiroso, mas religioso, o candidato já tem uma imagem bem definida
para os eleitores.
Ao
longo da música, entre bobagens e autopromoção do personagem, o grande
mote:
I
wanna be elected, elected.
"And
if I am elected
I
promise the formation of a new party
A
third party, the Wild Party!
I
know we have problems,
We
got problems right here in Central City,
We
have problems on the North, South, East and West,
New
York City, Saint Louis, Philadelphia, Los Angeles, Detroit, Chicago,
Everybody
has problems,
And
personally, I don't care[2]."
Lendo
até o fim é possível fazermos uma total analogia com o que passamos de 2018
para cá. Um fanfarrão mentiroso, apoiado nos braços religiosos do estado e da sociedade,
visando tão somente o próprio ego e festança irrestrita. Para no fim proclamar,
sem pudor, saber que existem problemas, mas que todo mundo os tem, e que no fim
ele não se importa.
Alice
Cooper, ele mesmo um falador controverso de questões políticas, apesar de dizer
não gostar destas, gravou outra música que serve perfeitamente à linha de
raciocínio aqui exposta. Go to Hell foi lançada em 1976, no disco Goes to Hell.
A faixa funciona como a uma sentença. Por inúmeras coisas feitas, como atos de violência,
por ter se comportado como a um moleque, enfurecido cidadãos, duvidar de
autoridades e ser obsceno, dentre tantas outras falhas, vá para o inferno.
Certamente
Vincent não as gravou pensando no futuro que flerta com o distópico e despótico,
como o nosso, mas as músicas servem para inúmeros propósitos, bem como ganham
diversos significados com o passar dos anos, mesmo controversos.
Antes,
o voto, depois, o inferno.
[1] (sátira política total. Nós
odiamos a política, mas a ideia de Alice, o flagelo do mundo inteiro, ser
presidente era boa demais).
[2] Eu quero ser eleito, eleito/ "E
se eu for eleito/ Prometo a formação de um novo partido/ Um terceiro, o Wild
Party!/ Eu sei que temos problemas,/ Temos problemas aqui em Central City,/ Temos
problemas no norte, sul, leste e oeste,/ Cidade de Nova York, Saint Louis,
Filadélfia, Los Angeles, Detroit, Chicago,/ Todo mundo tem problemas,/ E
pessoalmente, eu não ligo.)