segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O gosto pelas crônicas


"Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino".


Não sei por onde começar. Pela morte ou nascimento, livros ou amizades? Não importa, Sabino esta alem desses temas.

Hoje, estaria completando 86 anos; ontem, fez 5 anos de sua morte. Escritor dotado de incrível senso para o humor, olhar aguçado do cotidiano, transformado em maravilhosas crônicas ao longo dos anos.

Me lembro que quando fiquei sabendo da morte de Sabino, algo mudou em mim. Por alguns anos, ele foi o escritor que preencheu dias e dias de minha vida. Devorava suas crônicas com extrema fome, saboreando e engolindo silaba por silaba.
Dentre todos os gêneros literários, a crônica é um dos meus preferidos, justamente por causa de Rubem Braga, Stanislaw Ponte Preta e, principalmente, Fernando Sabino.

Talvez ele tenha escolhido o dia mais propicio para seu nascimento, Dia das Crianças, totalmente justificável no seu epitáfio: "Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino.”
E foi isso que ele demonstrou durante sua vida, um olhar de criança sobre todas as mazelas de ser um adulto. Tudo vira historia, narrada, mudada, aumentada.

Entre contos, cronicas, romances e novelas, escreveu mais de 30 livros; difícil destacar algum. Posso citar: O Econtro Marcado (1954), primeiro romance; De Cabeça para Baixo (1989), sobre suas idas e vindas ao longo dos anos; O Homem Nu (1960), A Mulher do Vizinho (1962), A Companheira de Viagem (1965), Deixa o Alfredo Falar! (1976), todos de crônicas; Cartas na Mesa (2002), correspondências com os amigos Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e Helio Pelegrino; Livro Aberto (2001), paginas soltas ao longo do tempo, como diz na capa. Bom, não consigo realmente destacar algum, todos apresentam uma unidade digna de figurá-los como grande obra literária.

Alem de escritor, Sabino foi nadador, funcionário público, produtor de documentarios, jornalista, critico literário, locutor de programa infantil, dentre tantas outras profissões. Estreiou em livro em 1941, com Os Grilos Não Cantam Mais, seguido de A Marca, em 1944. Em 1946, muda-se para Nova Iorque, onde reside por dois anos. Esse tempo ficou retratado no livro Cidade Vazia, de 1950. Somente em 1957 é que passa a viver exclusivamente de escrever. Fundou em 1960, junto com Rubem Braga e Walter Acosta, a editora do autor. Em 1964, é contratado, durante o governo João Goulart, para exercer as funções de Adido Cultural junto à Embaixada do Brasil em Londres. Em 1967, fundou, com Rubem Braga, a Editora Sábia, responsável pela difusão no Brasil de nomes como Mario Vargas Llosa, Jorge Luiz Borges, Pablo Neruda, Gabriel Garcia Márquez e Manuel Puig. Em 1979, retoma e acaba em dezoito dias “O Grande Mentecapto”, livro que havia iniciado 33 anos antes. A obra foi adaptada para cinema e teatro.

Em 1999 recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. No fim do discurso, algumas palavras que sintetizam a sua carreira de escritor: “falei que escrevo crônicas, entre um romance e outro. Para encerrar esta crônica-discurso autopromocional, devo confessar que, alem de alguns livros de contos de novelas, escrevi três romances: “O Encontro Marcado”, inspirado no jovem que fui; “O Grande Mentecapto”, no doidivanas que continuo sendo; “O Menino no Espelho”, na criança que eu gostaria de voltar a ser”.Doou o prêmio de R$40 mil para crianças carentes, ato que já havia feito em 1992, quando foi premiado pelo livro “Zélia, Uma Paixão”.


E Sabino se foi.
O menino voltou para o espelho.
Alfredo falou, gritou, chorou.
Viramundo se desvirou para a despedida.
Tudo ficou de cabeça para baixo, e Sabino
foi para cima.
Foi se encontrar com Paulo, Otto, Helio;
O encontro marcado.
A cidade ficou vazia, foram todos se despedir.
A falta que ele fará,
vocês não imaginam.
No tabuleiro de damas
uma partida de 80 anos,
enfim acabou.
As lacunas ficaram sem peças,
só restaram as lembranças
da grande mente de Sabino.
Mauro, Geraldo, Seu Marciano,
Eduardo, Hugo, até a mulher do vizinho
e a companheira de viagem,
todos foram à despedida.
Naquele dia, os grilos cantaram sem parar,
E quando o esquife desceu 7 palmos
1000 palmas se fizeram ouvir
Adeus, Sabino.
14/10/2004
Escrevi isso poucos dias depois dele falecer, sem pretensão nenhuma, só palavras bobas.

Um comentário:

Ton wonder disse...

O Sabino realmente é peça rara. Poucos chegam ou chegaram perto. Obrigado Carol.

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